Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

Amar: Verbo Transitivo Direto

Depois de tanto falarmos sobre o Papa e o Vaticano, aos quais fizemos severas críticas – e as mantemos de pé!!! – resolvemos voltar às raízes (só um pouquinho, hehehe...).

Portanto, segue reflexão sobre o Evangelho do último Domingo (Lc 7, 36-50).

Mas, primeiro, o trecho bíblico:

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36. Um fariseu convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa.
37. Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume;
38. e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos, beijava-os e os ungia com o perfume.
39. Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo: Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o toca, pois é pecadora.
40. Então Jesus lhe disse: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Fala, Mestre, disse ele.
41. Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o outro, cinqüenta.
42. Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o amará mais?
43. Simão respondeu: A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou. Jesus replicou-lhe: Julgaste bem.
44. E voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos.
45. Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me os pés.
46. Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés.
47. Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama.
48. E disse a ela: Perdoados te são os pecados.
49. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: Quem é este homem que até perdoa pecados?
50. Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: Tua fé te salvou; vai em paz.

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A leitura, como sempre, tem vários pontos a ser explorados. Temos visto por aí muita gente abordando a luta de classes, presente no texto. Outros analisando a figura da mulher e sua condição de excluída (notem que nem nome ela tem). Outros, ainda, exaltando o perdão como sinal de amor. Tantos pontos diferentes, mas todos centrados no amor, que afinal de contas é a mensagem central do texto.

Mas... O que é o amor???

Diz o dicionário que amar é: “sentir grande afeição, praticar o ato sexual, gostar muito de, escolher...”

Exceto pela última definição – “escolher” – parece que amor é sentimento... Não é!?! Mas será que o texto fala de um sentimento?

Disse Jesus que a mulher, denominada por alguns Maria Madalena (a coitadinha da Madalena sempre levando a culpa...), demonstrou muito amor (v. 47). Baseado em quê??? Nos coraçõezinhos que dela emanavam, feito desenhos apaixonados? Será por que ela suspirava muito, enquanto beijava os pés do Mestre?

Antes, não foi pelas ações que Ele avaliou o amor dela (vv. 44-46)?

Disse Jesus: "Vós sois meus amigos, SE FAZEIS o que vos mando!" (Jo 15, 14).

Peguemos o mais famoso texto escrito sobre o amor. Trata-se do cap. 13 da 1ª Epístola paulina aos Coríntios. Lá diz que o amor é paciente, é bom, não busca seus próprios interesses, tudo perdoa, tudo crê, tudo suporta...

Trata-se de ações, de hábitos, de um verdadeiro perfil comportamental, sem dúvida nenhuma.

Em algum momento o texto diz que o amor é um sentimento???

Bem é verdade que, por outro lado, o texto começa dizendo que de nada adianta doar tudo aos pobres e entregar o próprio corpo para ser queimado, se não houver amor (v. 3).

Mas isso não é a negação da ação. Antes, serve para mostrar que o amor não é vazio, que as ações não são nada se servem apenas ao propósito mesquinho de não ficar mal com Deus.

Ora, sabemos que alguns agem buscando o Bem, mas apenas e tão-somente visando uma barganha com Deus: “Ah... Conforme meus atos, ganho uns pontos com o Paizão e Ele, no fim das contas, acaba relevando alguns pecadinhos meus...”

A ação, pra ser sinal de Amor, pra gerar um Bem, precisa sair do nosso coração (sem confundir com sentimentalismo, por favor!!!!!!!!!!!!!), de forma gratuita e generosa.

Deve ser uma resposta ao apelo da Vida, que é abundante, mas só é plena quando é para todos. Não é este o desejo do Mestre (Jo 10, 10)???

E isso não tem receita pronta; não tem uma maneira certa de agir. Afinal, as respostas têm de ser dadas de acordo com as questões, não é!?! Mas há uma dica: Visar o Bem, promover a Vida! Não é nesta direção que o perdão (vv. 43 e 47) aponta?

Basta ver a relação: "Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos..." e "amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei..."

Assim fica claro, não???

Ainda sobre os Josés…

Alguém aí conhece o resumo do Projeto de Jesus, contado pelo evangelista São Lucas?

Está em Lc 4, 16-30:
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16. (Jesus) Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler.
17. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito (Is 61,1s.):
18. O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração,
19. para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor.
20. E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele.
21. Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir.
22. Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: Não é este o filho de José?
23. Então lhes disse: Sem dúvida me citareis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; todas as maravilhas que fizeste em Cafarnaum, segundo ouvimos dizer, faze-o também aqui na tua pátria.
24. E acrescentou: Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.
25. Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra;
26. mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia.
27. Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã.
28. A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga.
29. Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo.
30. Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.
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O texto todo daria uma bela reflexão, mas é de uma mudança de comportamento que eu pretendo falar agora.

Todos devem ter percebido que as pessoas dentro da sinagoga, naquele sábado, ficaram maravilhadas com Jesus... Até que alguém se lembrou: “Não é este o filho de José?”

Pronto... Começou o conflito!!! Jesus já não merecia mais crédito; e isso porque era filho de José, um simples carpinteiro.

“José” significa “Deus acrescentará”. Na Bíblia, existem alguns Zés... Mas dois foram os mais famosos: O esposo de Maria e o vice-Rei do Egito.

O do Egito viveu milhares de anos antes do outro. Mas ambos tinham algo em comum: Não eram Zés-manés!

O que tiveram de similar era a capacidade de ler os sinais (= sonhos).

O do Antigo Testamento soube interpretar os próprios sonhos, mas principalmente o do Faraó; e isso lhe proporcionou poder sobre todo o império egípcio, abaixo apenas do Faraó sonhador (Gn 41, 1-45).

O do Novo Testamento aceitou Maria, evitou que Jesus Menino caísse nas mãos do impiedoso Herodes e, dois anos depois, de seu filho Arquelau. Tudo porque “fora avisado por um anjo”. E adivinhem como este avisava José? Isso mesmo!!! Em sonhos!!! Curioso, não!?!

Outra semelhança foi o caráter: Um foi assediado por sua senhora, no Egito. Acabou preso porque todos preferiram acreditar na madame, em vez de acreditar no escravo (Gn 39, 6b-20).

O outro não acreditou muito naquele papo de “obra do Espírito Santo”, de início... Mas não iria deixar que apedrejassem Maria mesmo assim. Por isso, intentava deixá-la em segredo (Mt 1, 18-25). Desfeita a dúvida, ele assume Maria e, depois de Jesus nascido, Zé-carpinteiro comporta-se como o verdadeiro pai do Menino (Lc 2, 40-52).

As diferenças só começaram a aparecer quando surgiu o poder:

O Zé do Novo Testamento foi tutor do Rei, do Deus feito Homem. E nada se diz sobre ele na Bíblia, depois do “susto” que Jesus lhe dera, aos 12 anos de idade. Hoje este Zé é venerado como santo e é considerado o patrono dos trabalhadores. Fala-se da Sagrada Família, mas ele sempre aparece como o “terceiro no comando”. Foi o legítimo Zé-carregador-de-piano.

Já, o Zé-vice-Rei-do-Egito, uma vez tendo assumido o poder, subjugou o próprio pai e os irmãos, “oferecendo-lhes” moradia no Egito, durante o período das vacas magras. Aparentemente, um agradinho aos familiares... Mas o tempo das vacas magras durou apenas 7 anos, enquanto Israel (nome dado por Javé a Jacó, pai de José) só pôde sair do Egito 400 anos depois.

Portanto, senhoras e senhores, lembrem-se: O Zé não é mais do que ninguém... Nem menos!!! Menosprezar um homem pelo nome que tem é o mesmo que dizer: "Eu sou mais do que você!" E aí aquela historinha de "diante de Deus somos todos iguais" não vai passar de papo furado... Mas qual o quê??? Ame o teu próximo como a ti mesmo!

Ser Zé...

Oi... Aqui é o Zé Luiz!

Antes do texto, quero agradecer ao Brito e ao Rogério pelas palavras... E dizer para o Danilo que não julgue as pessoas pelo nome, pois também Natanael achava que nada de bom poderia vir de Nazaré, quando lhe apresentaram Jesus (Jo 1, 45-46)... E olha no que deu!!!

Sem mais... segue o texto:

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"E agora, José???" (Carlos Drummond de Andrade)

Dizem que nem Jesus conseguiu agradar a todos... Eu, embora insistentemente chamado de herege e constantemente "convidado" a abandonar a Fé (ou a Igreja; o que vier primeiro), diria que Ele não o quis. Mas acho que isso não vem ao caso agora, pois o fato a destacar é que Ele realmente não agradou a todos; e isso porque Ele não foi um Zé.

Nas propagandas da Kaiser, todo mundo, ou gosta, ou quer ser que nem o "Baixinho". Mas isso não é porque ele toma a cerveja da marca tal; e, sim, porque ele é o perfeito José.

José é o masculino de Maria, por excelência. Por isso -- creio eu -- Milton Nascimento não discordaria de que José também é um dom, uma certa magia, uma força, é o som, é a cor, é o suor, é uma gente que não vive, apenas agüenta... e, ainda assim, possui a estranha mania de ter fé na vida.

O Zé é uma unanimidade! Ele é Dirceu, é Genoíno, é Sarney, é Serra... É o José do Egito, que passa de escravo a senhor de seu pai e seus irmãos (Gn 30 - 50)... Mas também foi o pai de Jesus! E hoje é o Pe. Zezinho, o Pe. Zeca, os padres, religiosos e leigos José, Zé, Zezão... Foi meu bisavô, é meu pai, meu irmão, meu sogro e meu cunhado, primos e tios, sou eu mesmo...

Enfim... É um vício, uma virtude, uma característica! Tem o Zé-mané, o Zé-galinha, o Zé-vai-com-os-outros, Zé-mentira, Zé-povinho... O Zé só não é "bobo" nem "ninguém" (isso é coisa do coitado do João). Dado o poder pejorativo que têm, todos se lembram desses títulos. Mas quem se lembra do Zé que inventou a roda? E do que descobriu o fogo? E do primeiro a dominar as técnicas de plantio, da fundição, da escultura, da expressão lingüística e corporal? Podem ter sido um Zé-qualquer, mas o que fizeram certamente não era tarefa para qualquer Danilo.

Há pouco falávamos de Pentecostes, de como o Espírito sopra onde quer. Pois bem... Pode parecer arrogância que um Zé se meta a filosofar, a teologar, a criticar "sabedorias" """bimilenares""" (desculpem... eu não sabia que Bento XVI era tão velho assim... tá bem conservadinho, né!?!)... Mas desdenhar de um José, só porque atende pela alcunha de Zé, é o mesmo que dizer dizer ao Paráclito: "Você não sopra onde quer!" E isso, meus amigos, é uma blasfêmia, uma heresia, um verdadeiro pecado contra o Espírito Santo; o que, segundo Jesus Cristo mesmo diz, não tem perdão (Mt 12, 31-32; Lc12, 10-12).

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Ah... E eu não podia deixar de falar de outro Zé, o José Perez, vulgo Tinoco! No último domingo ele foi homenageado no Programa Raul Gil, da Band. 86 anos de vida, simples, mas cheia de bons exemplos. Ele é simplesmente uma unanimidade no universo artístico, principalmente no mundo da MPB. Esse senhor é a maior prova viva de que os Zés merecem respeito! Queee beleeeeeza!!!