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Olá, pessoas!!!
O que ofereço a vocês (texto abaixo) não é o relato oficial, que deve sair em alguns dias. Esta é a minha síntese do que foi o encontro, inspirada em Jo 20,1-18, texto que foi o fio condutor do evento.
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BÍBLIA E JUVENTUDES: JOVENS, EU VI!
Meninas e meninos, eu vi! Foi lá em Brasília/DF, mesma terra onde profetizou e morreu Gisley, o jovem. Morreu não... Foi assassinado! Aliás, como acontece com a maioria dos profetas. O fato é que eu vi, mais ou menos um ano depois da partida dele.
Antes, eu vira – estarrecido – mãos juvenis capazes de matar, sem questionar muito por quais lentes me fora possível ter esta visão. Porém, a partir dos últimos acontecimentos, à luz de uma nova lente, vi também histórias juvenis tecendo vida, ainda que timidamente, dispersas, isoladas e confusas – era madrugada e havia um jardineiro.
Mas eu não vi sozinho. Havia mais gente lá! Enxergamos primeiramente um túmulo. Estava vazio, embora devesse ter alguém. Tomadas/os de espanto, preocupamo-nos mais com o cenário de morte, mesmo estando vazio, do que com a possibilidade da vida, de uma nova criação, um novo jardim. Foi preciso que uma mulher gritasse: “Onde está Ele?” Se ela não dissesse nada, quanto tempo ainda ficaríamos dentro do túmulo, antes vazio, mas agora cheio de gente, nossa gente?
Vi as juventudes saindo de seus túmulos pessoais, alguns/umas jovens logo se acomodando em outros túmulos, mas a grande maioria saindo à procura de uma habitação de vivos. Embora tivéssemos vontade de andar pelo caminho certo, esquecemo-nos de perguntar: “Onde está Ele?” Sorte nossa termos Madalena, que forçara o olhar para enxergar alternativas à realidade nua e crua, a dar-nos a Boa Notícia: “Eu vi o Senhor!” Com isso, percebemos que não adiantava sair do túmulo. Precisávamos aprender a enxergar por nós mesmas/os, treinar nosso olhar. Mas não só isso... Era preciso saber, ainda, o que, ou a quem procurávamos.
Já falei que vimos um jardineiro? Melhor dizendo: não vimos, não; mas ele estava lá! Conseguimos vislumbrar o jardim, mas nos esquecemos que era necessário cultivá-lo, se quiséssemos vê-lo florido. Por isso, ignoramos o jardineiro. Somente Madalena se dirigiu a ele, perguntando se tinha levado o corpo do Senhor para outro lugar. Qual não foi a surpresa dela ao descobrir que o Senhor não estava morto coisa nenhuma, e que ele e o jardineiro eram a mesma pessoa? Nesse momento amanheceu, e Madalena pode ver claramente.
Demoramos para acreditar em Madalena. Lamentávamos a morte, em vez de perguntar por que o mataram. Ele fora executado como criminoso político, isso nós sabíamos. Mas por que, se ele falava de um Reino que nem deste mundo era? Tínhamos muito medo de fazer esta pergunta. Entretanto, quando amanheceu, fomos às ruas. Por que Ele morreu? Por que morrem as/os jovens? Quem nos está matando? Por que estão fazendo isso? Quando percebemos que a morte d’Ele não fora acidental, deduzimos que as outras mortes também não estavam acontecendo por acaso. Antes, foram arquitetadas. E isso – essa grande descoberta – incomodou quem estava querendo nos matar, sufocar, silenciar, tornar invisíveis. É preciso muita coragem para enfrentar esses grupos opressores. Coragem que só estamos tendo porque, igual à Madalena, “vimos o Senhor”.
Enfim, meninas e meninos, foram essas – além de outras, a serem contadas em outro momento – as coisas que eu vi. As juventudes dispersas em meio à escuridão da madrugada, ansiosas pelo sol prestes a despontar, perceberam na Bíblia uma ótima ferramenta para ver o Cristo, Alimento da Jornada. O encontro, em local e situação inesperados, porém livres das amarras institucionais, só foi possível porque deram-lhes novas lentes, as da Hermenêutica Juvenil.
Desde a virada do milênio, a cada cinco anos celebramos uma Campanha ecumênica da Fraternidade, organizada pelo CONIC. Em 2000, sob o tema “Dignidade Humana e Paz”, desejamos um “Novo Milênio sem Exclusões”. Em 2005, gritamos: “Felizes os que promovem a Paz” (Mt 5,9a). Os temas foram baseados numa campanha do CMI (Conselho Mundial de Igrejas): “2000-2010: Uma década para superar a violência”. Mas o tema, agora, é: “Economia e Vida”. Será que, diante deste assunto, poderemos continuar a falar de Paz?
À primeira vista, parece que este assunto se esgotou e, por isso, o CONIC resolveu abrir outra discussão. Mas é justamente o contrário. O tema deste ano aprofunda as reflexões sobre a Paz, pois vai direto à fonte da violência: as desigualdades sociais, fruto do desequilíbrio econômico e financeiro entre classes e entre nações.
A mola propulsora das desigualdades é o acúmulo, prática onde uns/umas possuem mais do que necessitam, enquanto outros/outras passam necessidade. Ora, se a reação dos que possuem em abundância é acumular cada vez mais, qual será a reação dos que nada possuem?
Os telejornais, e a mídia em geral, insistem em pôr a culpa da violência em jovens armados, ou ladrões de esquina: a “ponta fraca” do sistema. Mas serão eles os verdadeiros vilões? Isso me faz lembrar algumas palavras de Bertold Brecht: “Quem é teu inimigo? O que tem fome e te rouba o último pedaço de pão, chama-o teu inimigo. Mas não saltas ao pescoço de teu ladrão que nunca teve fome.” Claro, a ideia não é combater violência com violência. Sou da seguinte opinião: “Se queres a Paz... Prepara-te para a Paz!” Lembrei as palavras desse teatrólogo alemão somente para demonstrar quem é o nosso verdadeiro inimigo, pois – é preciso que se diga – as revoluções só acontecem mediante um inimigo comum e declarado.
Dificuldade em identificar o inimigo, ou medo de sofrer represália: eis as principais razões de muitas pessoas não saberem como reagir, diante da violência. Jesus viveu muitas situações onde era preciso identificar a causa do problema e vencer o medo de enfrentá-lo. Um exemplo claro é a tradicional fórmula: “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a minha paz. A paz que eu vos dou não é a paz que o mundo dá. Não fiqueis perturbados, nem tenhais medo” (Jo 14,27). A paz que o mundo (entenda-se: “Roma”) proporcionava, na época de Jesus, era na base da espada. Tudo corria bem para quem obedecia o imperador (entenda-se: “não criava confusão e mantinha os impostos em dia”). Já, a paz que Jesus oferecia era gratuita e verdadeira. Por isso, não havia razão para ter medo. Falando assim, Jesus encorajava seus ouvintes e, ao mesmo tempo, denunciava o verdadeiro inimigo, a fonte originária da violência: o poder opressor.
Entendendo desse modo a “paz que o mundo dá”, fica compreensível o motivo do Jesus de Mateus parecer o oposto do Jesus de João. Não entenderam? O Jesus de Mateus não vem trazer a paz, mas a espada (Mt 10,34). E o de Lucas vem trazer fogo e divisão (Lc 12,49-53). Sem entender o que estava acontecendo naquela época, o evangelho de João e os de Mateus e Lucas parecem ser contraditórios. Mas a paz que Cristo não quer é a dos romanos. E a espada, o fogo e a divisão, a que Ele nos chama, é a reação contra as injustiças que promovem a violência e a morte.
Divisão, neste caso, não é algo ruim. É preciso romper com o que nos faz mal. Mas, para combater a violência, não basta sermos não-violentos. Isso pode até anular os efeitos dela, mas não propõe nada melhor em seu lugar. Urge promover ações positivas, geradoras de paz. E então... O que são atitudes promotoras da Paz? Quem pode promovê-las? Em que espaços? Em que momentos? O que faz o grupo ou comunidade em que você vive para promover a Paz?
Como dizia meu tio: “Todo mundo vê as pinguinha que eu tomo, mas ninguém vê os tombo que eu levo!” É óbvio que ele não se referia aos tropeções que tomava, cambaleando de bêbado, a caminho de casa, mas das dificuldades que o empurraram ao vício. Assim acontece com a violência: Todo mundo quer o fim dela, mas poucos se preocupam em investigar a raiz do problema.
Segundo a TV, é fácil identificar os culpados. Eles andam de armas nas mãos, sem camisa, falam palavrões e, quando não escondem o rosto, percebe-se que são feios, desdentados e negros. Mas, se é tão fácil traçar um perfil violento, por que ainda não eliminamos este mal do nosso meio?
Não é de hoje que as novelinhas de horário nobre têm desenvolvido o conceito de que há pessoas do bem e do mal. As do bem nascem em berço de ouro, ou são pobres, mas muito bonitinhas e, por isso, ficam ricas. Porém, sofrem a novela toda, tendo sua recompensa só no final. As do mal já nascem em ambientes ruins e nunca se corrigem: ou morrem, ou terminam seus dias na cadeia.
Olhando para nossa realidade, quem são os presidiários? Brancos ou negros? Pobres ou ricos? Adultos ou jovens? Todo presidiário é culpado? Toda pessoa livre é inocente? São questões intrigantes, não!? Mas talvez a pergunta crucial seja esta: As pessoas nascem violentas, ou são levadas a isto?
Vamos comparar os textos At 4,32-35 e At 5,1-11, buscando perceber em qual situação e por qual motivo surge a violência. No primeiro, vemos o retrato da comunidade ideal, onde tudo era mantido em comum. No segundo, duas pessoas morreram. Isso por que mentiram? Não!!! Porque acumularam, quiseram ter mais que os outros. A morte foi consequência do egoísmo e do individualismo do casal.
Em nossa sociedade, vale mais a partilha, ou o lucro? Quem acumula não agride ninguém fisicamente. Mas, quando uns acumulam, outros passam privações. Viver na fartura sabendo que, por isso, outros passam fome, é um ato violento ou não!?
Ah, sim... E os descamisados com arma na mão, dos quais falamos no início? É bem verdade que eles não são ricos. Mas são vítimas daquela primeira violência, a das privações. Embora a TV diga que são bandidos, eles são marginais, ou seja, aqueles que vivem à margem, os excluídos da sociedade.
Há quem diga que essas pessoas deveriam procurar emprego. Mas há vagas para todo mundo? Os jovens conseguem facilmente o primeiro emprego, ou a maioria das vagas requer experiência? O salário que as empresas oferecem se equipara ao que se ganha na prostituição, ou no tráfico? As pessoas de menor condição social são respeitadas da mesma forma que as pessoas de melhor condição?
A pior agressão que esses grupos sofrem é serem convencidos de que são os culpados pela sua própria situação. Não foi o que fez o governo com os moradores dos morros cariocas, incriminando-os pelas mortes nos deslizamentos?
Quando o povo se insurge, é taxado de criminoso, violento. Mas há grupos naturalmente agressivos, ou a violência é um ciclo vicioso, fruto de um sistema que gera desigualdades e rouba a dignidade das pessoas? Não seria a agressão física uma reação desesperada, um grito de socorro? Afinal, é possível viver numa sociedade onde “não haja pessoas necessitadas” (At 4,34)? Isso garantiria o fim da violência?
Tudo começa de um modo especial e diferente para cada um/a. No meu caso, por exemplo, vivia recusando os convites insistentes para participar de um tal grupo de adolescentes. Até que, um belo dia, resolvi “ver qual é que era”.
Fui e encontrei um pessoal muito animado, cantando em roda. Fiquei entre duas irmãs, loirinhas, que gentilmente sorriam pra mim e disponibilizavam um folheto de cantos. A primeira música (desse encontro em especial e de todos os outros em que participei depois) foi “Pai-Nosso dos Mártires”. A galera simplesmente enlouqueceu cantando essa música. Não sei se foram as irmãs, a música, ou a empolgação do pessoal. Só sei que não me lembro do que aconteceu depois. Mas deve ter sido muito bom, pois, graças a essa primeira impressão, estou inserido nos meios juvenis até hoje.
Entretanto, quando me tornei assessor, foi diferente. Não lembro o momento exato em que isso aconteceu. Até porque esse é o tipo de coisa que a gente não decide. Parece haver um consenso, uma espécie de acordo não-verbal entre as/os participantes para eleger alguém assessor ou assessora do grupo. Um dia simplesmente te tratam de forma diferente. E aí??? O que fazer???
Definir o papel do/a assessor/a é complicado. Observando os critérios do grupo, parece que o primeiro passo é ter um período de caminhada maior que os demais. Mas só isso não basta! É necessário ter carisma e iniciativa também. Tem muita “figurinha antiga” por aí que adora o anonimato. Do/a assessor/a espera-se, no mínimo, que aponte o caminho, principalmente quando o grupo estiver indeciso ou desorientado. Por vezes, esse carisma gera uma pressão natural para que ele/a assuma o papel de coordenador/a. Neste momento, é preciso ter claro quem aponta os caminhos e quem deve trilhá-los. Entretanto, muitas/os assessoras/es sucumbem à tentação, pois estão confusas/os quanto ao seu papel e, além disso, o poder seduz.
Olhando as Escrituras, vemos Jesus passar por um dilema semelhante: o povo queria aclamá-lo rei. Os apóstolos também sonhavam com um Messias-Rei e, por isso, não entendiam por que o Mestre fugia desse “apelo popular”. Vejamos como Jesus reage perante esta situação em Mt 14,22-33, passagem bem conhecida, onde Jesus caminha sobre as águas.
Orar é estar em intimidade com Deus. O monte, segundo o Antigo Testamento, é o lugar do encontro com Javé (Ex 24,16-18; 31,18; Lv 25,1 etc). Logo, estamos diante de Jesus ressuscitado. Alguém perguntará: “Mas como, se aí Ele nem tinha sido crucificado?” Lembremo-nos de que os Evangelhos (e toda a Bíblia) têm um compromisso teológico com a verdade, e não historiográfico. O mar agitado são as dificuldades pelas quais passa o grupo ou comunidade, simbolizados pelo barco. Uma vez ressuscitado, Jesus segue à frente (importante dizer: Ele não assume os remos; apenas mostra o caminho), andando por cima das dificuldades. Mas o medo impede o grupo de reconhecê-lo. Por isso, o vêem como a um fantasma. Ou seja, imaginam que o projeto de Jesus morreu com Ele, que tudo não passou de um sonho e, por isso, o que está bem diante dos olhos deles não passa de uma miragem.
Pedro (sempre o Pedrão) desafia Jesus: “Se é você mesmo (= se é verdade que você ressuscitou), faça eu ir até aí!” Pedro quer ressuscitar, mas não quer passar pela cruz, assim como os grupos que querem as/os assessoras/es assumindo as responsabilidades por eles. Pedro abandona o barco e até obtém resultados significativos, por um tempo, mas logo cai em si e afunda. Reconhecendo seus erros, pede socorro e Jesus o salva. Podemos deduzir daí que manter o grupo unido e navegando pode ser também uma tarefa do/a assessor/a. Vale ainda ressaltar que, quando ambos entram no barco, Jesus e Pedro (= assessor/a + jovens = grupo), o mar (= dificuldades, desafios) se acalma (= fica sob controle).
Pelo modo de agir de Jesus, talvez seja mais correto chamar as/os assessoras/es de acompanhantes. Esse é o papel de Jesus. Ele está sempre ciente dos fatos, ciente da realidade, mas nunca faz as coisas por nós. Se olharmos outros textos, Ele está sempre mandando fazer isso, fazer aquilo, mas Ele mesmo nunca põe a mão na massa. Entretanto, não nos deixa sozinhos. No caminho de Emaús, caminha ao nosso lado (Lc 24,15); na partilha dos pães, embora diga: “dêem-lhes vocês mesmos de comer”, é o primeiro a sentir compaixão do povo (Mt 14,14). Ele conhece tanto as pedras do caminho como as/os próprias/os caminhantes. E, por isso, pode indicar sempre a melhor alternativa. Que este, meus amigos e minhas amigas, seja o principal critério para quem pretende ser um/a acompanhante das juventudes.
Em 2010, novamente a Campanha da Fraternidade será ecumênica. O tema é: “Economia e Vida”. O lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Há tempos não se via um ataque tão direto, por parte das instituições religiosas, ao cerne de todos os males de nossa era: o culto ao dinheiro.
O lema da CF lembra outra passagem: “dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Jesus disse isso quando lhe perguntaram: “É lícito, ou não, pagar imposto a César?” O imposto, como o nome já diz, é uma obrigação que, embora legal (porque previsto em lei), não seria exigido se quem o deve pagasse espontânea e livremente. O não-pagamento confere-nos o rótulo de mau devedor, má devedora, um/a “fora-da-lei”. Ora, quem já caiu nas armadilhas de um cartão de crédito sabe que o mau caratismo é de quem aplica juros abusivos, e não de quem foi enganado pela propaganda sedutora do consumismo.
Se a serpente encontrasse Adão e Eva hoje, diria: “Se comprardes isso agora, sereis como deuses”. E então eles correriam até o shopping mais perto de sua casa e, depois de gastar o que não podiam, Eva tentaria aplacar sua culpa comendo um chocolate e Adão se entupiria de cerveja. Mas ambos saberiam, em seu íntimo, que não deviam ter escutado a serpente em forma de “tela-plana-trinta-e-quatro-polegadas”.
O desejo de consumir deriva da necessidade que temos de não passar necessidade. Nada mais natural. Porém, o desejo desenfreado de consumir deriva do medo de que falte amanhã e, por isso, gera o acúmulo. Quando exagerado, o medo gera o egoísmo: “importa é não faltar pra mim!” E o grau superlativo do medo diz: “importa não sobrar para os outros!” Eureca!!! Descobrimos a fórmula da desigualdade social!
Bom... Na verdade, essa fórmula já é conhecida há anos. Quando os hebreus e hebreias estavam numa situação crítica de fome, bem no meio do deserto, Deus Javé fez chover maná do céu (Ex 16). O medo de passar fome no dia seguinte fez com que algumas famílias pegassem mais do que o necessário para o seu sustento. Porém, sem freezer, naquele deserto, logo elas perceberam que o maná tinha prazo de validade. Se não fosse consumido no dia da coleta, amanhecia estragado.
E assim, a duras penas, o povo foi aprendendo a viver só com o necessário. Tudo ia bem, até que um dia alguém resolveu cercar um punhadinho de terra e dizer que aquele espaço era seu. Mas essa é uma história para outro pôr-do-sol.
Aliás, falando em cercar um punhadinho de terra... Esta não seria uma análise completa do aspecto econômico e ecumênico do texto, se não falássemos de um terceiro “eco”: o da ecologia. Afinal, os três “ecos” estão interligados. Podemos observar, no texto, que as tentativas de exploração do meio ambiente, a extração indevida daquilo que Javé, aproveitando as características naturais do deserto, ofereceu para matar a fome (maná), foram frustradas (o maná acumulado apodreceu). Além de partilhar, o povo aprendeu a viver em harmonia com a natureza, pois colhia dela somente o necessário.
O que vale destacar aqui é a pedagogia da partilha e da harmonia com o meio, embora alguns vejam, na história do maná, uma justificativa divina para o consumismo imediatista de nossa época. Elas exigem o que é de César, mas esquecem o que é de Deus. No deserto, o povo estava murmurando contra Moisés e contra Javé, pois havia gente morrendo de fome. Hoje também há pessoas morrendo de fome, mas essas não parecem ser as mesmas que obedecem à lógica do “eu quero, e tem que ser agora!”
Essa proposta pedagógica da partilha indica uma economia bem diferente da praticada pelo atual sistema econômico mundial. A propósito: O que é economia? Que modelos econômicos conhecemos? Qual deles seria a melhor alternativa para os nossos dias? Ela tem alguma coisa a ver com a proposta do maná no deserto? Por quê?