Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

ECOS DA VIDA

Chegando setembro, mês da Bíblia para os católicos de rito romano, a proposta neste ano de 2010 é ler/estudar o livro de Jonas, buscando refletir o desafio de ser missionário no mundo urbano. Assim como é narrado no texto, também hoje Deus nos chama: “Levante-se e vá à Cidade Grande” (Jn 1,1). Temos sido profetisas e profetas fujões, ou protagonistas?
Esta reflexão pretende duas coisas: descobrir qual a nossa missão hoje e mostrar como Jonas nos ensina tudo o que um missionário NÃO deve ser. Tanto a profetisa como o profeta precisam estar atentos e disponíveis ao chamado, que só pode ser escutado através dos sinais, os ecos da Palavra de Deus. Jonas ouve esses ecos, mas não está disponível, tanto é que confessa a Deus: “Eu sabia... por isso fugi!” (Jn 4,2).
São três os gritos que ecoam hoje: Ecologia, Economia e Ecumenismo. Estes, os ECOS da Vida. Porém, o projeto de Jonas é de morte. Javé o envia para denunciar a maldade de Nínive (Jn 1,1), mas ele anuncia a destruição (Jn 3,4). O ódio que nutre pelos ninivitas o faz preferir a própria morte (Jn 4,3.8b.9b) do que presenciar Javé perdoando e restaurando a vida daquelas pessoas e animais (Jn 3,10).
O ódio de Jonas até que se justifica pelo fato de Nínive ser a capital da Assíria, símbolo das forças imperialistas que oprimiam o povo judeu. Mas querer a morte do opressor é o projeto de quem pretende tomar o poder. O autêntico projeto popular quer vida para todos. Olhando o texto, vemos que o Templo só é citado duas vezes, quando Jonas, no interior do grande peixe, lamenta não poder mais contemplar sua beleza (Jn 2,5.8). E quando o rei decreta jejum em todo o reino (Jn 3,6-9), o povo já está “vestido de saco” há muito tempo (Jn 3,5). Por isso, defendem os estudiosos que o livro é escrito por um movimento popular de resistência tanto ao poder externo, imperial, quanto ao poder interno, exercido pelos sacerdotes do Templo em Jerusalém.
E como entender os ecos que movem a nossa missão, a partir deste projeto popular? “Eco” vem do grego “oykos”, que significa “casa”. A ecologia, portanto, estuda as relações da pessoa humana com o meio ambiente, casa de todos os seres vivos. Jonas se aborrece porque Javé faz uma mamoneira morrer. O que lhe irrita não é o fim da mamoneira, mas ter perdido sua sombra, seu conforto (Jn 4,6-9). Então Javé lhe faz a pergunta que é o grande desfecho do livro: “Você tem pena de uma manoneira, que não lhe custou trabalho... e Eu não terei pena de Nínive, a grande cidade, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos... e muitos animais?” Javé quer a vida de todo o planeta: rios, florestas, animais e seres humanos. Limitamos nossa compreensão de meio ambiente às florestas e rios. Mas nossos esgotos a céu aberto, a água que desperdiçamos, o óleo que jogamos no ralo, o lixo sem tratamento ou jogado nos terrenos baldios, a extração indiscriminada do petróleo, o descaso com as pessoas que vivem abaixo da linha da miséria, comendo as sobras... Não serão estes problemas ecológicos também?
Quando se fala em economia, pensamos logo em dinheiro. Mas “oykos-nomia” são as regras, as normas de regência da casa. Se esta palavra está atrelada ao dinheiro, hoje, deve-se ao fato do nosso sistema econômico ser capitalista. Tudo se organiza a partir de um valor financeiro. As coisas que custam mais caro são as mais importantes. As “pessoas que interessam” são as mais ricas. Hoje, até uma ideia pode ser vendida, sendo-lhe atribuído um valor monetário. É comum as pessoas nos fazerem um favor e, quando vamos agradecer, ouvirmos: “não precisa agradecer; um dia vou precisar de você!” Até os favores se tornaram moeda de troca... No tempo de Jonas não era bem assim, mas o ódio que este nutria pelos ninivitas vinha do fato de que o rei, isto é, o imperador cobrava pesados impostos de seus subordinados, ou alimento para seus exércitos, ou mulheres para sua diversão, o que empobrecia e humilhava cada vez mais o povo. O engraçado é que Jonas devia achar justo o preço das ofertas que os judeus tinham que apresentar ao Templo para serem purificados. Mas... e nós? Como podemos substituir, ou viver de forma alternativa à imposta pelo atual sistema econômico?
Por fim, o ecumenismo, “oykos-úmene”, casa comum. Jonas ouve a Palavra de Deus, mas não a pratica. Os marinheiros estão mais atentos aos ecos desta Palavra. Eles percebem, no comportamento anormal das ondas, a ira de um Deus. Como verdadeiros sacerdotes, resolvem a questão oferecendo um sacrifício, isto é, jogando Jonas ao mar. O problema se resolve. Quando está em Nínive e ameaça a cidade com a destruição, Jonas não espera que o povo tome a iniciativa de jejuar e vestir-se de saco, buscando aplacar a ira de Javé pela penitência. Eles reconhecem o poder de Javé, assim como os marinheiros, mas o texto não diz que se tornam judeus por isso. Jonas não é nada ecumênico, mas o povo é. E quem escreve o texto procura demonstrar que Javé também é ecumênico. Ele quer o arrependimento dos ninivitas, mas também o de Jonas. Como estão nossas relações ecumênicas hoje? Os mesmos problemas sociais que atingem os cristãos, atingem também espíritas, budistas, ateus... Temos consciência disso? O que fazemos para tornar nossa casa comum?
Tendo pensado rapidamente sobre os Ecos da Vida, como podemos continuar esta reflexão? O livro de Jonas é crítico ao Templo e ao sistema econômico opressor, e aponta como solução o levante popular. A mensagem está bem clara. Que ações podemos realizar, além de projetos como o “Ficha Limpa” e o “Plebiscito pelo Limite da Propriedade de Terra”, que são importantes conquistas populares, mas não passam de paliativos, soluções temporárias que não resolvem definitivamente o problema? Como fazer, por exemplo, para que a campanha contra a violência e extermínio de jovens, que é iniciativa das Pastorais de Juventude católico-romanas, mas que deveria ser assumida por todas as Juventudes, não se torne outro paliativo, mas solução eficaz?

É TUDO UMA QUESTÃO DE “ECO”

Em 2010, novamente a Campanha da Fraternidade será ecumênica. O tema é: “Economia e Vida”. O lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Há tempos não se via um ataque tão direto, por parte das instituições religiosas, ao cerne de todos os males de nossa era: o culto ao dinheiro.

O lema da CF lembra outra passagem: “dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Jesus disse isso quando lhe perguntaram: “É lícito, ou não, pagar imposto a César?” O imposto, como o nome já diz, é uma obrigação que, embora legal (porque previsto em lei), não seria exigido se quem o deve pagasse espontânea e livremente. O não-pagamento confere-nos o rótulo de mau devedor, má devedora, um/a “fora-da-lei”. Ora, quem já caiu nas armadilhas de um cartão de crédito sabe que o mau caratismo é de quem aplica juros abusivos, e não de quem foi enganado pela propaganda sedutora do consumismo.

Se a serpente encontrasse Adão e Eva hoje, diria: “Se comprardes isso agora, sereis como deuses”. E então eles correriam até o shopping mais perto de sua casa e, depois de gastar o que não podiam, Eva tentaria aplacar sua culpa comendo um chocolate e Adão se entupiria de cerveja. Mas ambos saberiam, em seu íntimo, que não deviam ter escutado a serpente em forma de “tela-plana-trinta-e-quatro-polegadas”.

O desejo de consumir deriva da necessidade que temos de não passar necessidade. Nada mais natural. Porém, o desejo desenfreado de consumir deriva do medo de que falte amanhã e, por isso, gera o acúmulo. Quando exagerado, o medo gera o egoísmo: “importa é não faltar pra mim!” E o grau superlativo do medo diz: “importa não sobrar para os outros!” Eureca!!! Descobrimos a fórmula da desigualdade social!

Bom... Na verdade, essa fórmula já é conhecida há anos. Quando os hebreus e hebreias estavam numa situação crítica de fome, bem no meio do deserto, Deus Javé fez chover maná do céu (Ex 16). O medo de passar fome no dia seguinte fez com que algumas famílias pegassem mais do que o necessário para o seu sustento. Porém, sem freezer, naquele deserto, logo elas perceberam que o maná tinha prazo de validade. Se não fosse consumido no dia da coleta, amanhecia estragado.

E assim, a duras penas, o povo foi aprendendo a viver só com o necessário. Tudo ia bem, até que um dia alguém resolveu cercar um punhadinho de terra e dizer que aquele espaço era seu. Mas essa é uma história para outro pôr-do-sol.

Aliás, falando em cercar um punhadinho de terra... Esta não seria uma análise completa do aspecto econômico e ecumênico do texto, se não falássemos de um terceiro “eco”: o da ecologia. Afinal, os três “ecos” estão interligados. Podemos observar, no texto, que as tentativas de exploração do meio ambiente, a extração indevida daquilo que Javé, aproveitando as características naturais do deserto, ofereceu para matar a fome (maná), foram frustradas (o maná acumulado apodreceu). Além de partilhar, o povo aprendeu a viver em harmonia com a natureza, pois colhia dela somente o necessário.

O que vale destacar aqui é a pedagogia da partilha e da harmonia com o meio, embora alguns vejam, na história do maná, uma justificativa divina para o consumismo imediatista de nossa época. Elas exigem o que é de César, mas esquecem o que é de Deus. No deserto, o povo estava murmurando contra Moisés e contra Javé, pois havia gente morrendo de fome. Hoje também há pessoas morrendo de fome, mas essas não parecem ser as mesmas que obedecem à lógica do “eu quero, e tem que ser agora!

Essa proposta pedagógica da partilha indica uma economia bem diferente da praticada pelo atual sistema econômico mundial. A propósito: O que é economia? Que modelos econômicos conhecemos? Qual deles seria a melhor alternativa para os nossos dias? Ela tem alguma coisa a ver com a proposta do maná no deserto? Por quê?

Na casa do Arnesto...

“Nóis fumo e num encontremo ninguém!!!”
(Demônios da Garoa, mais uma vez)

Bah... Que experiência eu tive neste findi...

Bom... Simplesmente mudou o meu conceito sobre o que é gostoso! Agora eu digo, pra quem quiser saber, que:

“Gostoso é viajar 7 horas pra fazer uma coisa e não poder fazê-la!!!”

Mas enfim... Não foi de todo ruim, pois havia mais de uma coisa a ser feita e, se não pude fazer o principal, pelo menos adiantei as outras!

Não tá entendendo nada, né!?! É que eu fui a Ijuí-RS, distante 600 km a noroeste de Porto Alegre, pra dar um curso sobre: “Bíblia, Juventude e Ecologia”.

Só que, chegando lá, depois de ser muito bem recebido pelos coordenadores do evento, deixei tudo preparado para receber os cursistas... Que não apareceram!!!

Não vou dizer que foi uma das melhores experiências da minha vida... Mas não saí chateado de lá! Creio que poder resolver outras questões, referentes à coordenação de Ijuí, amenizou um pouco a frustração!

“Tá... Mas coordenação de quê?” -- você deve estar se perguntando! Eu daria o curso pelo CEBI-RS (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos - Região de Rio Grande do Sul), a pedido da sub-região de Ijuí!

Pois bem... Hoje era pra eu estar lá, ainda... Mas não!!! Tô aqui em casa, esperando dar a hora para a festinha de aniversário do meu sobrinho Eduardo! Well... Taí outra coisa positiva de não ter tido o encontro, né!?! Poderei curtir um pouco mais a família!

Só que eu tava muito afim de falar sobre o tema! Eu me preparei com muito entusiasmo para esta conversa sobre Bíblia, Juventude e Ecologia, pois é um tema que me diz respeito! Então, caro leitor, paciência... Vai sobrar pra você, hehehehehehe...

Nas próximas postagens, vou colocar um pouco das reflexões que fiz, preparando o encontro em Ijuí – que, aliás, não ficou completamente perdido, pois remarcamos para 04 e 05 de julho! Se alguém aí estiver interessado em comparecer...

Como o estudo foi baseado nos 12 primeiros capítulos de Gênesis -- o que é muita coisa -- vou procurar fazer as reflexões por partes! Na próxima postagem, o primeiro capítulo! Até lá!!!