"Pessoas medíocres falam sobre pessoas,
Pessoas normais falam sobre coisas,
Pessoas inteligentes falam sobre idéias."
Coisa mais intragável um debate político. No entanto, nada é mais eficiente para fundamentar a escolha do nosso presente e do nosso futuro. Só que fica difícil escolher quando, em vez de projetos, discute-se caráter.
Outro dia me perguntaram com quais pontos do projeto do Alckmin eu não concordava. Se eu tivesse apenas o recurso da TV, não saberia responder. Isso porque o candidato, tanto no debate de ontem quanto em toda a sua campanha, gastou tanto tempo tentando atingir a moral de seu oponente que freqüentemente era interrompido pelo mediador do debate justamente quando começaria a falar de seu governo.
Tá certo... o Lula também não é santinho!
Ambos se chamaram de desinformados, levianos, hipócritas e bravateiros. Mas perdi a conta de quantas vezes o Lula foi chamado de arrogante, mentiroso, irresponsável, mal educado e mau caráter.
Só que isso não foi o mais irritante.
O debate mostrou o que o governo federal fez e o que não fez. Por força dos acontecimentos e da política moralista, do Alckmin e da população, a ética dos últimos 4 anos foi muito mais debatida do que os projetos que conduzirão os próximos 4 anos. Pena que eu não pude interagir com a TV, pois queria muito ser ouvido pelos candidatos, ao dizer: "Tá... e o que vai ser daqui pra frente???"
Cansei de ouvir os candidatos repetirem, feito papagaios, os dados e números dos últimos 15 anos, que diariamente rolam pela internet, dispostos sempre de forma parcial, conforme os interesses de um ou de outro.
Aí vem o Alckmin, na entrevista pós-debate, dizer que o governo atual é retrô e que ele vai discutir o futuro. Mas por que não fez isso até agora?
Queremos tanto uma política moderna, mas tanta ênfase no aspecto moral, alimentada pela mídia graças ao forte apelo popular, mostra que ainda queremos um Jânio Quadros (conhecido por medidas como a proibição de biquinis na praia). Talvez, por isso, Alckmin (que não é bobo) tenha adotado o papel de paladino da justiça. Por 3 vezes ele chamou seu oponente de mau caráter e se denominou (literalmente) o salvador da pátria, tendo como resposta o pedido de Lula para que fossem debatidos os projetos, em vez de pessoas. Após a 4ª alfinetada, Lula perdeu as estribeiras e aí virou uma luta franca, onde todos perdemos.
No fim, vi-me obrigado a escolher por simpatia. E aí, desculpem-me os tucanos, mas eu sempre fugi dos "salvadores da pátria", pois conheço um tal de Bush e um tal de Hitler, que acreditaram piamente estar fazendo um bem inestimável ao mundo... e, no entanto, todos sabemos no que deu (e está dando) esta prepotência.
Os Peregrinos
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