"As pessoas me olham como se eu fosse um traste; e eu penso: Traste é tu, que não tem a liberdade de sentar numa calçada!"
(morador de rua, de Porto Alegre)
Nesta semana, uma TV local traz uma série de reportagens sobre os indigentes. Embora considere-se apenas a realidade local, alguns números não devem ser diferentes nos demais lugares do país.
Dois exemplos:
Mais de 85% dos mendigos são alfabetizados, segundo uma pesquisa não-governamental de 1999;
Enquanto fatos bizarros, como uma mulher cujos olhos saltam voluntariamente das órbitas, merecem registro internacional (Guiness Book), os indigentes não aparecem nem nas pesquisas do IBGE.
O primeiro problema taí... Quem olha para eles??? Falta uma pesquisa séria para entendermos como eles foram parar nas ruas e quais as saídas para resolvermos este problema social.
Perguntados, um a um, as motivações para a mendicância são muitas: desemprego, bebida, falta de apoio da família, desilusões profundas... Mas raramente algum deles admite a falta de amor-próprio, de fé em si mesmo.
Como nós, eles preferem o caminho mais fácil. É mais fácil, para nós e nossa consciência, dar uns trocados, sobras de comida, cobertores... E, para eles, viver sem responsabilidades, estendendo a mão na certeza de que tudo o que vier é lucro.
Não percebem, eles, que a falsa sensação de liberdade esconde um desprezo pela própria vida, um medo de reconstruir suas vidas e serem novamente mal-sucedidos. Não percebemos, nós, que a falsa sensação de caridade esconde o ato egoísta de aliviar a consciência, o medo de nos envolvermos, de sermos solidários.
Ambas as motivações são de medo e comodismo. Mas a nossa atitude é pior, pois é o nosso olhar de pena que alimenta seu auto-desprezo; é a nossa falsa esmola (ato de dar tudo na mão: roupa, cobertas, alimento, dinheiro etc.) que alimenta seu comodismo e os mantêm na indigência.
Então... O que fazer???
Como fazer para promover o desenvolvimento integral, o resgate da dignidade e da vida humana, que consideramos em nossas doutrinas como bens inalienáveis?
Não é simples achar soluções eficazes para estas questões, mas é inaceitável que diante da dificuldade continuemos apenas passando para o outro lado da rua, como naquela famosa parábola... (cf. Lc 10, 30-37)
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