Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

PELOS VIOLENTOS, CONTRA A VIOLÊNCIA

Como dizia meu tio: “Todo mundo vê as pinguinha que eu tomo, mas ninguém vê os tombo que eu levo!” É óbvio que ele não se referia aos tropeções que tomava, cambaleando de bêbado, a caminho de casa, mas das dificuldades que o empurraram ao vício. Assim acontece com a violência: Todo mundo quer o fim dela, mas poucos se preocupam em investigar a raiz do problema.

Segundo a TV, é fácil identificar os culpados. Eles andam de armas nas mãos, sem camisa, falam palavrões e, quando não escondem o rosto, percebe-se que são feios, desdentados e negros. Mas, se é tão fácil traçar um perfil violento, por que ainda não eliminamos este mal do nosso meio?

Não é de hoje que as novelinhas de horário nobre têm desenvolvido o conceito de que há pessoas do bem e do mal. As do bem nascem em berço de ouro, ou são pobres, mas muito bonitinhas e, por isso, ficam ricas. Porém, sofrem a novela toda, tendo sua recompensa só no final. As do mal já nascem em ambientes ruins e nunca se corrigem: ou morrem, ou terminam seus dias na cadeia.

Olhando para nossa realidade, quem são os presidiários? Brancos ou negros? Pobres ou ricos? Adultos ou jovens? Todo presidiário é culpado? Toda pessoa livre é inocente? São questões intrigantes, não!? Mas talvez a pergunta crucial seja esta: As pessoas nascem violentas, ou são levadas a isto?

Vamos comparar os textos At 4,32-35 e At 5,1-11, buscando perceber em qual situação e por qual motivo surge a violência. No primeiro, vemos o retrato da comunidade ideal, onde tudo era mantido em comum. No segundo, duas pessoas morreram. Isso por que mentiram? Não!!! Porque acumularam, quiseram ter mais que os outros. A morte foi consequência do egoísmo e do individualismo do casal.

Em nossa sociedade, vale mais a partilha, ou o lucro? Quem acumula não agride ninguém fisicamente. Mas, quando uns acumulam, outros passam privações. Viver na fartura sabendo que, por isso, outros passam fome, é um ato violento ou não!?

Ah, sim... E os descamisados com arma na mão, dos quais falamos no início? É bem verdade que eles não são ricos. Mas são vítimas daquela primeira violência, a das privações. Embora a TV diga que são bandidos, eles são marginais, ou seja, aqueles que vivem à margem, os excluídos da sociedade.

Há quem diga que essas pessoas deveriam procurar emprego. Mas há vagas para todo mundo? Os jovens conseguem facilmente o primeiro emprego, ou a maioria das vagas requer experiência? O salário que as empresas oferecem se equipara ao que se ganha na prostituição, ou no tráfico? As pessoas de menor condição social são respeitadas da mesma forma que as pessoas de melhor condição?

A pior agressão que esses grupos sofrem é serem convencidos de que são os culpados pela sua própria situação. Não foi o que fez o governo com os moradores dos morros cariocas, incriminando-os pelas mortes nos deslizamentos?

Quando o povo se insurge, é taxado de criminoso, violento. Mas há grupos naturalmente agressivos, ou a violência é um ciclo vicioso, fruto de um sistema que gera desigualdades e rouba a dignidade das pessoas? Não seria a agressão física uma reação desesperada, um grito de socorro? Afinal, é possível viver numa sociedade onde “não haja pessoas necessitadas” (At 4,34)? Isso garantiria o fim da violência?