Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

Um Menino com 2000 anos???

É Natal!!! Um menino nos foi dado...

Linda simbologia!!! Um menino, uma criança, sinal de uma nova vida! Mas que vida nova é esta?

Se fixarmos a atenção nos Presépio, seja rico ou pobre, comum ou criativo, vivo ou cenográfico, sempre veremos algo novo! Mas entenderemos qual a novidade?

Desconfio consideravelmente que é necessário ver o todo, o que Cristo foi e é (um Menino que virou Homem e revelou-se Deus), o que Ele fez (o nascimento em um ambiente fedendo estrume de vaca, a infância e adolescência cercadas de mistérios, uma vida pública agitada e cheia de tumultos, perseguições, traições, lágrimas, suor, vinho, festas, discussões políticas...) e a conseqüência de seus atos (sua “vergonhosa” morte na Cruz, que lhe propiciou a Vitória sobre a Morte e a Glória da Ressurreição).

Entretanto, o que temos? De um lado, o Presépio, que torna o nascimento numa manjedoura (cocho para cavalos) uma honra, um luxo, a coisa mais terna que o Natal tem a nos oferecer... Do outro lado, temos a Via-Sacra, que mostra o quanto o Homem-Deus sofreu, deixando-nos com uma culpa tão pesada que quase morremos de tristeza ao ver tanto sangue derramado (por nós, como se faz tanta questão de enfatizar).

E entre uma coisa e outra, o que temos???

Que legal, né!?! Resta-nos a ilusão de que tudo é flor (mesmo cheirando a comida de cavalo), ou dor (com tanto sangue e culpa que chega-se a esquecer do que o próprio Cristo disse: “Pecado não é hereditário; os revéses inexplicáveis da vida não são ‘herança maldita’!”).

Entendo que algumas coisas são difíceis de retratar... Os valores, por exemplo, tais como “amar até os inimigos”. Ou então o verdadeiro motivo de Cristo ser dado a festas e ao vinho. Ou então os motivos políticos e sociais que estavam por trás das discussões com os Doutores da Lei.

Mas não há como negar uma coletiva má vontade que nos força a tratar o assunto sempre com superficialidade, não é!?!

E não será por isso que o Natal e a Páscoa se resumiram a festas e presentes? Não será por isso que as crianças exigem presentes em troca de bom comportamento, enquanto Cristo ensinou a gratuidade, em vez da retribuição?

Não será por isso que uma jovem morreu em Santa Cruz/RS, sentada na janela de um carro, manobrado “radicalmente” por seu namorado, em “comemoração” ao Natal?

Não será por isso que os inimigos dizem, hipocritamente: “Só por hoje vou te perdoar”?

Não será por isso que Papai Noel virou a figura central da festa de nascimento do Cristo?

Aliás... Papai Noel não começou mal! Ele era o Bispo Nicolau – este sim um Bom Velhinho – que ajudava os mais necessitados, principalmente no Natal. Mas, desde que a Coca-Cola “comprou o seu passe”, ele está a serviço do dinheiro. Assim, quanto mais rico, mais fácil viver o “Espírito do Natal”.

O Menino virou Homem e revelou-se Deus. Bendito seja o dia em que Ele veio ao mundo. E que todos saibamos realmente o que estamos comemorando.

Feliz Natal!!!

Natal é tempo de quê???

Em tempos de Advento, urge perguntar: “Advento de quê???” O que nos remete a outra pergunta: “Por que o Natal???”

Se nem todos nos perguntamos isso – talvez porque já nascemos vivendo o “Espírito(?) do Natal” – é bom saber que há quem se pergunte! E é gente muito cristã e muito católica! Como esse Padre...
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DIÁRIO ABERTO
(apenas alguns trechos)

2007 DEZEMBRO 03

[...] O natal do menino-jesus dos clérigos e da sua Igreja católica romana foi, nos últimos anos, totalmente comido pelo natal do menino-jesus e do pai-natal do grande Comércio e das suas feéricas catedrais de Consumo, todas elas muito mais atraentes e confortáveis do que as velhas e inestéticas catedrais dos bispos e as igrejas paroquiais mal iluminadas e gélidas nestes dias de outono-inverno, [...] com imagens de santas e de santos que remetem [...] para tempos e modelos de vida humana que não são mais os nossos, nem nunca voltarão a ser [...].

[...] Não pensem, então, que estou a escrever tudo isto com satisfação, num desapiedado bota-abaixo contra a Igreja. Não. É com dor e lágrimas que escrevo. Porque eu próprio sou Igreja nesta Igreja, ainda que já não alinhe, desde que, felizmente, cresci na Fé cristã jesuânica, em nada destas coisas eclesiásticas [...].

[...] O menino-jesus não existe mais, nem sequer como fotografia, e, quando historicamente existiu, nos seus anos de infância, ninguém o tratou como hoje o tratam, nem sequer a mãe e o pai biológicos, pois ele foi um menino pobre/remediado em tudo igual aos demais. As imagens que dele se têm feito [...] são uma injúria ao seu Nome de Homem adulto e à sua Memória politicamente subversiva e perigosa e conspirativa, pois têm o perverso efeito de nos [...] fazer sair do Tempo e introduzir-nos no Mito, uma arma mais e poderosíssima das minorias dos privilégios contra as suas inúmeras vítimas que, graças a ele, também saem do Tempo e da Luta política duélica que sempre haveriam/haverão de protagonizar para passarem dos Ninguém que são a Alguém que todas elas estão chamadas a ser [...].

[...] Constato, com tristeza ainda maior, que nem estes meus irmãos mais ilustrados rasgam o véu da Mentira institucionalizada à volta destes adventos e destes natais eclesiásticos, o que manifestamente retira profecia aos seus escritos e Boa notícia de Deus, a de Jesus, a qual, como já sublinhou o apóstolo Paulo, pela década de 50 do século I, é escândalo para todos os eclesiásticos/religiosos e loucura para todos os Executivos do Mundo, nomeadamente, os três mais vertebrais, o do Dinheiro, o do Poder político e o do Templo/Religões, todos eles muito bem disfarçados de personalidades, mas que, no fundo, não passam de profissionais da Mentira e assassinos, por omissão e acção, dos povos, já que é graças a eles, que esta perversa Ordem Económica Mundial do Dinheiro que fabrica pobres e pobreza em massa se perpetua, de geração em geração [...].

[...]Que fique, pois, aqui bem claro e duma vez por todas: O menino-jesus não existe (existiu Jesus menino, como todos os seres humanos quando nascemos), mas como menino-jesus, a nascer todos os anos, não existe nem nunca existiu. O natal que a Igreja e os donos das grandes catedrais do Consumismo nos querem obrigar a celebrar todos os anos [...] não é de Jesus, o de Nazaré, nem tem nada a ver com ele. O advento do calendário litúrgico eclesiástico [...] Não passa de um jogo litúrgico que serve apenas para entreter/ocupar clérigos formatados para desviarem as populações do Tempo e das lutas políticas duélicas que foram sempre as de Jesus, o de Nazaré, e têm de ser as das suas discípulas, dos seus discípulos, enquanto durar a História [...].

[...] É então mais do que tempo de acordarmos, como Igreja e como Humanidade. Evangelizar os pobres e os povos é preciso, imperioso e urgente. E do núcleo essencial da Boa Notícia de Deus que é Jesus, o de Nazaré, [...]faz parte a boa notícia de que o Mito, por muito poético que possa ser, só serve para nos tirar e aos povos do Tempo e das lutas políticas duélicas que urge travarmos com inteligência e audácia desarmadas. Igualmente faz parte essencial desse núcleo da Boa Notícia de Deus a anunciar/praticar hoje e sempre que o Ressuscitado Jesus da nossa Fé cristã eclesial é o Crucificado Jesus, sob Pôncio Pilatos e a pedido dos sumos sacerdotes Anás e Caifás, devido às Causas em que ele duelicamente se envolveu contra a Mentira e o Assassínio institucionalizados, no seu tempo e país, já então disfarçados de Ordem Mundial [...].

Fonte:

http://padremariodemacieira.com.sapo.pt/diario.htm

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O texto, em tom agressivo – nitidamente um desabafo – não deixa de ser profético.

Vale lembrar que é um texto de Portugal, onde a imagem do menino-jesus é tão comercialmente explorada quanto, aqui no Brasil, a do nosso “Bom(?) Velhinho”!

Alguns poderão dizer: “Mas... e as nossas crianças? Elas precisam de um mundo de fantasias e de sonhos! É no imaginário que se desenvolvem todas as suas potencialidades... Não podemos simplesmente vendá-las!”

É verdade... Não podemos impedi-las de sentir o fascínio do Papai-Noel! Mas podemos ensiná-las a lutar, desde pequenas, pela igualdade!

Não estamos ensinando nossos filhos, desde muito cedo, a discriminar os mais pobres e a se fechar no individualismo?

Exemplo: “Arturzinho... Você mereceu seu presente, pois foi um bom menino! A Manuelita, filha do nosso vizinho, não se comportou... Por isso não ganhou a bicicleta!”

E o Arturzinho conclui: “Tadinha da Manuelita... Mas o importante é que EU ganhei meu Play Station!”

E por que o ponto alto da celebração de Natal são os presentes? Onde fica a partilha? A convivência? A solidariedade?

Se, de pequeninos, eles aprendem a se preocupar com os coleguinhas, a ser solidários com os pobrezinhos, quando crescer certamente vão querer um mundo melhor para todos! E aí vão entender que o Menino nascido numa manjedoura, embora Rei, de tudo se despojou pelo bem dos que nada tinham, com o único objetivo de que fosse imitado, inclusive na Morte e Ressurreição!

Se pelo menos isso pudermos mudar, então, com todo direito, poderemos nos desejar... UM FELIZ NATAL!!!