Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

JUVENTUDES E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Costuma-se dizer que, se espremermos alguns jornais, em vez de tinta, escorrerá sangue. A violência não se tornou apenas banal e comum a todas as realidades; ela virou entretenimento, um espetáculo, poderoso anestésico que nos domina, gerando um clima de terror que nos fascina e imobiliza ao mesmo tempo.

A violência é institucionalizada. Ela serve aos interesses de uma minoria organizada e articulada, que mantém a maioria (população) dividida em subgrupos, desorganizados, desarticulados, guerreando uns contra os outros. E o pior... Essa minoria consegue fazer o povo acreditar que, em vez de vítima, é o principal culpado da situação. Mas que minoria é essa? De que forma isso atinge as juventudes? Há um só tipo de violência? Quais tipos nós conhecemos? Eles dependem de cor, sexo, condição social, ou idade?

Chega de violência; queremos Paz! Em Is 32,17 lê-se que a Paz é fruto da Justiça. Mas de qual justiça estamos falando? Vamos dar uma olhadinha no livro de Jonas. Enquanto vamos lendo, observemos: O que Deus quer de Jonas? O que Jonas deseja para os ninivitas? Quem inicia a mudança é o rei, ou o povo? Como Jonas se sente, no final? Qual a diferença entre a justiça de Jonas e a de Deus?

O livro de Jonas é escrito no pós-Exílio, durante a dominação persa e a reconstrução do Templo e de Jerusalém. Lendo os livros de Esdras e Neemias, vemos que: a Lei se tornou bem mais rigorosa e abrangente; criou-se aversão à/ao estrangeira/o; o Templo se tornou central na vida do povo e os sacerdotes os grandes líderes, já que o rei persa não admitia reis locais (como os reis-vassalos da Idade Média).

Jonas, então, representa a elite sacerdotal e Nínive os povos estrangeiros. O Templo só aparece uma vez no texto, na boca de Jonas, dentro da baleia. É o povo reagindo ao novo poder constituído, que aparenta restaurar a confiança em Javé, mas na verdade faz apenas um acordo político com o rei persa: “Deixe-nos mandar na religião e cultura desse povo, que em troca garantimos teu poder sobre a nação e os devidos impostos!

E nos dias de hoje... Como anda a nossa justiça? Ela recria a vida, como fez Javé com os ninivitas? Ela trata toda/o cidadã/o com misericórdia, respeito e dignidade? Ela educa para a cidadania, aplicando penas justas, recuperando as/os infratores e tranquilizando a população de que elas/es podem ser reintegradas/os à sociedade? O que podemos fazer para mudar este quadro, a partir da leitura de Jonas?

Para ajudar na reflexão, uma pergunta: Se a violência atinge todas as realidades, por que a maioria das/os detentas/os de nosso sistema carcerário são jovens, pobres e negras/os?

Diz o ditado: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra!” O contraditado vem na letra de uma música: “Paz sem voz não é paz; é medo!” Os mais ingênuos acreditam que a paz é um mundo sem brigas, nem divergências, onde todas/os se abraçam e todo mundo é igual. Mas será que a violência nasce das diferenças? Já vimos que não!!!

Urge despertarmos, criarmos consciência do que realmente está matando nossas/os jovens. Mas não basta!!! Precisamos agir, tomando partido das/os injustiçadas/os. Mas como???

Precisamos criar uma Cultura de Paz!!!

JUVENTUDES: UNIDADE NA DIVERSIDADE

Desde os primórdios, a humanidade vive em grupos. Não dá pra negar: somos seres sociais. O que nos uniu, nas origens, foi o instinto de sobrevivência (éramos a caça), mas hoje, sobretudo no meio urbano, as relações se tornaram tão diversificadas e complexas que, além da sobrevivência, movem-nos outros interesses.

Para começar, tornamo-nos nossos próprios caçadores. É de Júlio César, imperador romano, a frase: “Dividir para conquistar!” Ele sabia que, unidas, as aldeias teriam mais chances de resistir. E hoje... Quem é o Júlio César da nossa juventude? Quais os mecanismos para mantê-la dividida? Há uma única tribo (= grupo) juvenil, ou várias, reunidas mediante diferentes interesses ou realidades? Isso é bom ou ruim?

Já que citamos César, que tal um passeio em Corinto? As cartas escritas por Paulo foram dirigidas às comunidades da terceira maior cidade do império romano, com mais de 400.000 habitantes. Situada entre dois portos, era passagem obrigatória do Ocidente para o Oriente e vice-versa. De solo irregular, a cidade vivia do turismo (festas, esportes e atrações culturais) e do transporte de cargas e de pessoas, de um porto para o outro. Os trabalhadores eram pobres: escravos ou libertos. Uma guarnição militar assegurava – e controlava – o transporte de mercadorias e pessoas. O grande fluxo de pessoas, de todos os cantos do império, também atraía comerciantes.

Bem parecida com as grandes cidades de hoje em dia, não!?! Mas não era só isso... Havia shoppings, digo, templos espalhados por todos os lados, dedicados a vários deuses, sendo Afrodite a deusa principal. A administração da cidade (e de todo o império) estava vinculada ao culto aos deuses. Cultuá-los era garantir a prosperidade, tanto pessoal quanto social. Seus cultos eram regados a banquetes e orgias. A prostituição era comum, e havia inclusive prostitutas/os sagradas/os.

É dentro desse contexto que Paulo escreve. Lá, como cá, havia divisões, o que enfraquecia a comunidade. Vejamos 1Cor 11,17-34. Também fala de um banquete (Ceia Eucarística). Mas Paulo não está falando de ritos, celebrações, missas... A Ceia possuía uma função social. Nos banquetes, algo era oferecido aos deuses em troca do que se queria (sucesso nos negócios, por exemplo). Por isso, só podiam participar aquelas/es que tivessem como pagar. Na Ceia Eucarística, é o próprio Deus, Jesus Cristo, que se oferece. Todas/os podem participar, em pé de igualdade. Escravos sentam-se com senhores, homens com mulheres, jovens com adultos. Tudo é partilhado, há uma comum-unidade, não só de alimentos, mas de todo um estilo de vida. Porém, se alguns são desprezados, que diferença há entre a Ceia e os banquetes?

A proposta da Ceia, no fundo, era a proposta de uma sociedade alternativa.

A economia, nesse novo jeito de se relacionar, era baseada na partilha e no serviço. Paulo, inclusive, evoca uma imagem, mostrando que a comunidade é um corpo (o corpo de Cristo) e cada um de nós somos membros desse corpo (1Cor 12,12-30). Portanto, não podemos estar divididos. O braço não pode se desfazer do pé porque aí o corpo todo padece. Em 1Cor 12,4, Paulo afirma: “Há diversidade de dons, mas um só é o Espírito!

A comunidade só sobrevive se permanece unida e cada um põe suas diferenças a serviço dos demais. E as tribos (= juventudes)? Será que têm algo a aprender com isso? De que forma podemos promover a unidade? É possível permanecer unidos na diversidade?