Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

PAZ SEM VOZ... É MEDO!!!

Desde a virada do milênio, a cada cinco anos celebramos uma Campanha ecumênica da Fraternidade, organizada pelo CONIC. Em 2000, sob o tema “Dignidade Humana e Paz”, desejamos um “Novo Milênio sem Exclusões”. Em 2005, gritamos: “Felizes os que promovem a Paz” (Mt 5,9a). Os temas foram baseados numa campanha do CMI (Conselho Mundial de Igrejas): 2000-2010: Uma década para superar a violência. Mas o tema, agora, é: “Economia e Vida”. Será que, diante deste assunto, poderemos continuar a falar de Paz?

À primeira vista, parece que este assunto se esgotou e, por isso, o CONIC resolveu abrir outra discussão. Mas é justamente o contrário. O tema deste ano aprofunda as reflexões sobre a Paz, pois vai direto à fonte da violência: as desigualdades sociais, fruto do desequilíbrio econômico e financeiro entre classes e entre nações.

A mola propulsora das desigualdades é o acúmulo, prática onde uns/umas possuem mais do que necessitam, enquanto outros/outras passam necessidade. Ora, se a reação dos que possuem em abundância é acumular cada vez mais, qual será a reação dos que nada possuem?

Os telejornais, e a mídia em geral, insistem em pôr a culpa da violência em jovens armados, ou ladrões de esquina: a “ponta fraca” do sistema. Mas serão eles os verdadeiros vilões? Isso me faz lembrar algumas palavras de Bertold Brecht: “Quem é teu inimigo? O que tem fome e te rouba o último pedaço de pão, chama-o teu inimigo. Mas não saltas ao pescoço de teu ladrão que nunca teve fome.” Claro, a ideia não é combater violência com violência. Sou da seguinte opinião: “Se queres a Paz... Prepara-te para a Paz!” Lembrei as palavras desse teatrólogo alemão somente para demonstrar quem é o nosso verdadeiro inimigo, pois – é preciso que se diga – as revoluções só acontecem mediante um inimigo comum e declarado.

Dificuldade em identificar o inimigo, ou medo de sofrer represália: eis as principais razões de muitas pessoas não saberem como reagir, diante da violência. Jesus viveu muitas situações onde era preciso identificar a causa do problema e vencer o medo de enfrentá-lo. Um exemplo claro é a tradicional fórmula: “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a minha paz. A paz que eu vos dou não é a paz que o mundo dá. Não fiqueis perturbados, nem tenhais medo” (Jo 14,27). A paz que o mundo (entenda-se: “Roma”) proporcionava, na época de Jesus, era na base da espada. Tudo corria bem para quem obedecia o imperador (entenda-se: “não criava confusão e mantinha os impostos em dia”). Já, a paz que Jesus oferecia era gratuita e verdadeira. Por isso, não havia razão para ter medo. Falando assim, Jesus encorajava seus ouvintes e, ao mesmo tempo, denunciava o verdadeiro inimigo, a fonte originária da violência: o poder opressor.

Entendendo desse modo a “paz que o mundo dá”, fica compreensível o motivo do Jesus de Mateus parecer o oposto do Jesus de João. Não entenderam? O Jesus de Mateus não vem trazer a paz, mas a espada (Mt 10,34). E o de Lucas vem trazer fogo e divisão (Lc 12,49-53). Sem entender o que estava acontecendo naquela época, o evangelho de João e os de Mateus e Lucas parecem ser contraditórios. Mas a paz que Cristo não quer é a dos romanos. E a espada, o fogo e a divisão, a que Ele nos chama, é a reação contra as injustiças que promovem a violência e a morte.

Divisão, neste caso, não é algo ruim. É preciso romper com o que nos faz mal. Mas, para combater a violência, não basta sermos não-violentos. Isso pode até anular os efeitos dela, mas não propõe nada melhor em seu lugar. Urge promover ações positivas, geradoras de paz. E então... O que são atitudes promotoras da Paz? Quem pode promovê-las? Em que espaços? Em que momentos? O que faz o grupo ou comunidade em que você vive para promover a Paz?