Tudo começa de um modo especial e diferente para cada um/a. No meu caso, por exemplo, vivia recusando os convites insistentes para participar de um tal grupo de adolescentes. Até que, um belo dia, resolvi “ver qual é que era”.
Fui e encontrei um pessoal muito animado, cantando em roda. Fiquei entre duas irmãs, loirinhas, que gentilmente sorriam pra mim e disponibilizavam um folheto de cantos. A primeira música (desse encontro em especial e de todos os outros em que participei depois) foi “Pai-Nosso dos Mártires”. A galera simplesmente enlouqueceu cantando essa música. Não sei se foram as irmãs, a música, ou a empolgação do pessoal. Só sei que não me lembro do que aconteceu depois. Mas deve ter sido muito bom, pois, graças a essa primeira impressão, estou inserido nos meios juvenis até hoje.
Entretanto, quando me tornei assessor, foi diferente. Não lembro o momento exato em que isso aconteceu. Até porque esse é o tipo de coisa que a gente não decide. Parece haver um consenso, uma espécie de acordo não-verbal entre as/os participantes para eleger alguém assessor ou assessora do grupo. Um dia simplesmente te tratam de forma diferente. E aí??? O que fazer???
Definir o papel do/a assessor/a é complicado. Observando os critérios do grupo, parece que o primeiro passo é ter um período de caminhada maior que os demais. Mas só isso não basta! É necessário ter carisma e iniciativa também. Tem muita “figurinha antiga” por aí que adora o anonimato. Do/a assessor/a espera-se, no mínimo, que aponte o caminho, principalmente quando o grupo estiver indeciso ou desorientado. Por vezes, esse carisma gera uma pressão natural para que ele/a assuma o papel de coordenador/a. Neste momento, é preciso ter claro quem aponta os caminhos e quem deve trilhá-los. Entretanto, muitas/os assessoras/es sucumbem à tentação, pois estão confusas/os quanto ao seu papel e, além disso, o poder seduz.
Olhando as Escrituras, vemos Jesus passar por um dilema semelhante: o povo queria aclamá-lo rei. Os apóstolos também sonhavam com um Messias-Rei e, por isso, não entendiam por que o Mestre fugia desse “apelo popular”. Vejamos como Jesus reage perante esta situação em Mt 14,22-33, passagem bem conhecida, onde Jesus caminha sobre as águas.
Orar é estar em intimidade com Deus. O monte, segundo o Antigo Testamento, é o lugar do encontro com Javé (Ex 24,16-18; 31,18; Lv 25,1 etc). Logo, estamos diante de Jesus ressuscitado. Alguém perguntará: “Mas como, se aí Ele nem tinha sido crucificado?” Lembremo-nos de que os Evangelhos (e toda a Bíblia) têm um compromisso teológico com a verdade, e não historiográfico. O mar agitado são as dificuldades pelas quais passa o grupo ou comunidade, simbolizados pelo barco. Uma vez ressuscitado, Jesus segue à frente (importante dizer: Ele não assume os remos; apenas mostra o caminho), andando por cima das dificuldades. Mas o medo impede o grupo de reconhecê-lo. Por isso, o vêem como a um fantasma. Ou seja, imaginam que o projeto de Jesus morreu com Ele, que tudo não passou de um sonho e, por isso, o que está bem diante dos olhos deles não passa de uma miragem.
Pedro (sempre o Pedrão) desafia Jesus: “Se é você mesmo (= se é verdade que você ressuscitou), faça eu ir até aí!” Pedro quer ressuscitar, mas não quer passar pela cruz, assim como os grupos que querem as/os assessoras/es assumindo as responsabilidades por eles. Pedro abandona o barco e até obtém resultados significativos, por um tempo, mas logo cai em si e afunda. Reconhecendo seus erros, pede socorro e Jesus o salva. Podemos deduzir daí que manter o grupo unido e navegando pode ser também uma tarefa do/a assessor/a. Vale ainda ressaltar que, quando ambos entram no barco, Jesus e Pedro (= assessor/a + jovens = grupo), o mar (= dificuldades, desafios) se acalma (= fica sob controle).
Pelo modo de agir de Jesus, talvez seja mais correto chamar as/os assessoras/es de acompanhantes. Esse é o papel de Jesus. Ele está sempre ciente dos fatos, ciente da realidade, mas nunca faz as coisas por nós. Se olharmos outros textos, Ele está sempre mandando fazer isso, fazer aquilo, mas Ele mesmo nunca põe a mão na massa. Entretanto, não nos deixa sozinhos. No caminho de Emaús, caminha ao nosso lado (Lc 24,15); na partilha dos pães, embora diga: “dêem-lhes vocês mesmos de comer”, é o primeiro a sentir compaixão do povo (Mt 14,14). Ele conhece tanto as pedras do caminho como as/os próprias/os caminhantes. E, por isso, pode indicar sempre a melhor alternativa. Que este, meus amigos e minhas amigas, seja o principal critério para quem pretende ser um/a acompanhante das juventudes.
Os Peregrinos
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4 caminhantes:
Adorei o seu texto...e cofesso que me identifiquei muito com algumas partes, para mim ainda está meio confuso o que faz parte da assessoria e o que faz parte da coordenação. Mas esse texto fez com que eu abri-se meus olhos para alguns pontos....obrigado pela partilha e ajuda.
segunda-feira, 15 março, 2010Muito bom!!!
quarta-feira, 17 março, 2010Eu como assessora venho descobrindo a importância de permitir a asseossoria de Jesus em minha vida e no meu atuar... Ele me oferece exelentes indicações, depois sai de cena e diz agora é a tua vez. A confiança que Este Assessor coloca em minha pessoa me alegra e as vezes me assusta também.
Existe uma certa confusão entre o papel do coordenador e assessor...
quarta-feira, 31 março, 2010Penso que três coisas diferenciam o papel do assessor, do coordenador. O Assessor não deve fazer PELA juventude, nem PARA a juventude, mas fazer COM a juventude. A princípio isso pode ser difícil de entender, mas pode ser o ponto de partida para quem deseja trilhar essa missão. Seguir a metodologia de Jesus é indispensável.
dumas
Bah, ainda não cheguei nesta etapa mas o tempo se apróxima e o medo tbem. Tenho muito medo de me comportar da mesma manera que os assesseros que me acompanham na diocese. É um dificil muito grande, mas axo ki vale mto a pena...
domingo, 11 abril, 2010massa o blog... Parabéns :D
Douglas da PJ
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