Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

Poder, pra que te quero???

Estava eu conversando com um amigo, outro dia, sobre o Poder. O motivo foi um documentário de 1934, propagandista do nazismo, mostrando a chegada de Hitler em Nuremberg. Em tudo o documentário fazia lembrar a recente visita de Bento XVI ao Brasil.

Já começa mostrando a vista aérea, minutos antes do avião do Führer pousar. Poucos instantes onde o que se vê são somente nuvens, uma cena de indescritível leveza e que nos remete logo ao céu (ou seja... o Poder vem do alto).

Aí ele desce e entra num carro, de onde acena para as milhares de pessoas amontoadas nas calçadas das ruas por onde segue o desfile. O que se segue são as tais quebras de protocolo, comuns nos governos populistas, tais quais aquelas que vimos acontecer com o Presidente Lula, especialmente em sua primeira eleição.

O mesmo foi feito por Bento XVI, andando com as janelas do Papamóvel abertas, dando trabalho aos seguranças quando resolveu caminhar entre os jovens da Fazenda Esperança, etc e tal.

Depois o líder alemão entra no hotel onde vai ficar hospedado e, instantes depois, aparece na janela, saudando o povo que não arreda pé de lá.

A seguir, o documentário passa para outra cena: a dos jovens hitlerianos (da qual, inclusive, fazia parte o jovem Joseph Ratzinger). Esses mesmos jovens lotam um estádio de futebol, em outra cena, eufóricos com as falas do amável e atencioso líder.

Já, com seus generais, o discurso é duro e inflamado, tal qual fez Bento na abertura do CELAM. Provavelmente é o que o Lula faz com seus Ministros também... Por que não???

Mas enfim... Este meu amigo não gostou nada da comparação entre Bento XVI e Hitler e me perguntou se o Poder é ruim. Disse-lhe eu, à época (ainda um pouco assustado com a sua reação enérgica) que definitivamente o Poder não é ruim.

Depois de uns dias, voltei pra casa e refleti mais calmamente sobre o assunto. E então percebi que há dois tipos de Poder. Talvez haja mais... Porém, duvido que não sejam variações desses dois: O Vertical, invariavelmente de cima pra baixo; e o Horizontal, normalmente baseado no amor e no serviço.

É claro que eu deveria ter dito a esse meu amigo que o documentário, intitulado “O Triunfo da Vontade”, tornou-se na verdade uma fonte onde podemos apreciar os símbolos do Poder, qualquer Poder, não só o de Hitler ou do Papa. Mas confesso que tenho esse defeitinho de provocar os outros...

No fim das contas, a película serve mesmo para diferenciarmos as duas formas de Poder. O que vem do alto (das nuvens) obviamente é o Vertical.

Ora, o Poder de Cristo não vem do alto! Do Alto, com certeza... mas do alto não mesmo. Ele se tornou um de nós, igualou-se, desceu ao nosso “degrau”.

No lava-pés, afirmou que era o Mestre e Senhor, mas disse também que quem quisesse ser o primeiro, que imitasse o seu exemplo (Jo 13, 1-17). Ou seja: que os líderes, os detentores do Poder fossem aqueles que lavassem os pés dos demais.

Lavar o pé, aí, significa o quê, se não for estar a serviço do próximo? Jesus está entre nós, é um de nós, exerce sua Autoridade, que é dada do Alto, sem no entanto colocar-se acima de nós.

Portanto, maldito seja o Poder que faz uns serem mais do que outros e que, por isso, dá origem ao infame ditado: “Manda quem pode; obedece quem tem juízo”.

E que esse meu amigo, se estiver lendo o presente texto, desculpe-me o mau jeito. Não quero o mal do Papa. Pelo contrário, quero o bem da Igreja; daquela Igreja que Cristo instituiu...

1 caminhantes:

dinda disse...

"Não quero o mal do Papa. Pelo o contrario, quero o bem da Igreja"
Obs: daquela igreja que Cristo intituiu...
È , sempre penso nisso. As pessoas tbem me criticam quando faço alguns comentarios a respeito do papa, mas não só dele, mas de algumas pessoas que estão proximas de mim dentro da igreja que se deixam conduzir pelo poder. São sacerdotes, freiras, lideres de pastoral, coordenadores de comunidades...etc. Não quero mal de ninguem, pelo contrario, só queria que essas pessoas pudessem se deixar conduzir por Cristo, porque assim teremos a igreja que Cristo instituiu. Não que eu seja perfeita, mas tento a todo momento não me deixar conduzir por essa palavra "poder" a ponto de essa palavra torna-se ação em minha vida.Trabalho ativamente na minha comunidade e esse poder as vezes se torna tentador, não vou mentir, afinal somos seres humanos limitados e passiveis de erro.E é uma luta constante dentro de mim, que aos poucos vou vencendo a favor de Jesus. E não me canso de rezar pela nossa igreja , por mim tambem, para que possamos cada vez mais dar exemplos de solidariedade, partilha, caridade enfim, demonstrar o verdadeiro poder do amor.

domingo, 19 agosto, 2007