Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

Carta ao Pe. Adalberto

São Leopoldo/RS, 29 de setembro de 2007.


Ao Padre Adalberto
e a todos os que querem o bem de nossa comunidade,
pela graça de Nosso Senhor Jesus Cristo
e pela intercessão de Nossa Senhora das Graças,
Paz & Bem!!!


Ainda com um nó em nossas gargantas, recordamo-nos do dia 15 último, quando nos comunicaste, Pe. Adalberto, a decisão da Fraternidade Palavra e Missão, em comunhão com Dom Zeno, de que esta comunidade voltará às mãos de um padre diocesano.

O problema não é quem chega! Afinal, todo padre é um vocacionado, um enviado de Deus. O que nos entristece são os motivos pelos quais estão te tirando daqui.

Sabemos que o teu jeito simples, humilde e até -- desculpe-me dizer -- meio atrapalhado, foi confundido com fraqueza. Dói confessar, como membro desta comunidade, que houve quem se aproveitou de tua aparente "fraqueza" para, em vez de agir com misericórdia, tripudiar. Sede de poder??? Quem sabe...

Mas eu pergunto: Onde está a fraqueza de um filho do interior, que preza a família, os amigos e as pessoas muito antes de tijolos, lajotas e paredes rebocadas?

Aprendemos a gostar de ti, do teu jeito desengonçado. Aprendemos que as roupas sociais e a fisionomia séria escondem um gurizão, um irmão, um verdadeiro fraterno, de mente, peito, braços e coração abertos.

Aprendemos, principalmente, que gostas mais de ser um companheiro do que um administrador; que és como Cristo, quando disse aos Apóstolos que deixassem os pequeninos virem até Ele; e isso foi o que encantou a maioria de nós.

Quantos aqui são gratos porque estivemos doentes e foste nos visitar, estivemos tristes e foste nos consolar, estivemos carentes e nos deste atenção...

Entretanto, nem um ano completaste entre nós e já vais embora... Ficamos muito, muito tristes com isso.

Queríamos ir contigo; mudar-nos para Porto Alegre... Mas não iremos!!! Este é o nosso chão; esta é a nossa comunidade. Se a fraternidade -- tua esposa, como tu mesmo nos disseste -- sentisse o mesmo, não arredaria o pé também.

Mas não queremos condená-la! Temos só o que agradecer!!! A ti, ao Padre Stoffel, ao Edmilson, à Irmã Nazaré... E às Irmãs do CCI, cujo trabalho dedicado aos pequeninos de Deus é incansável. Lamentamos apenas que esse trabalho as deixe tão ausentes do dia-a-dia da comunidade.

Não, Pe. Adalberto!!! Não vamos contigo!!! Vamos ficar aqui, mergulhados em incertezas, mas cientes de que toda crise gera uma oportunidade de crescimento.

E olha só o que já aprendemos com os acontecimentos: Dia 15, mesmo dia em que nos deste a triste notícia, quase toda a comunidade se manifestou, pedindo a tua permanência, aplaudindo-te de pé.

Digo "quase toda" porque, sabemos muito bem, dois ou três não te querem por perto.

Ora... Dois ou três, numa assembléia onde estavam mais de cem pessoas; o que esse número representa? E, no entanto, a vontade desses dois ou três é que foi feita. Não está claro, para nós, que somos muitos, mas não somos ainda uma autêntica comunidade de fé?

Numa autêntica comunidade de fé, há unidade, há compromisso, há organização. Desunidos, desorganizados, descompromissados, não passamos de massa de manobra. É isso que queremos? É isso, Comunidade Divino Espírito Santo?

Também nós, que queremos tua permanência, Pe. Adalberto, temos culpa pela tua saída. Nada fizemos, enquanto podíamos. Nosso egoísmo nos isolou.

Somos tão individualistas que hoje esta comunidade não tem nenhuma pastoral forte.

Tinha grupo de jovens, mas acabou. Tinha a Cáritas, mas hoje está praticamente terminada. Tinha Pastoral do Dízimo, mas não tem mais. Não se ouve mais falar em ECC, grupos de família, grupo de mulheres... Não temos nem ministros e coroinhas suficientes para as celebrações. Aliás, quantos ministros visitam os nossos doentes?

Pra falar a verdade, a única coisa que funciona é a catequese e o Grupo de Oração... E olhe lá!!! Porque nem todos os catequistas e carismáticos encontramos nas missas.

E agora queremos condenar dois ou três, cuja motivação até entendemos. Não concordamos... Mas entendemos: eles caíram em tentação; e nós, na omissão.

Em Judá, o Templo foi destruído duas vezes. E ainda assim os judeus não entenderam que as pessoas são mais importantes do que a Lei.

E aqui??? Quantas vezes precisaremos destruir este Templo de tijolos para entender isso? Somos cristãos... Já deveríamos saber de antemão que para Cristo o que importa é a vida, são as pessoas; e tijolos não têm vida, não são pessoas.

Bom... Mas chega de "mea culpa"! Tenho certeza de que todos já entendemos que há algo a aprender nessa história toda, não!?!

Boa sorte em Porto Alegre, Pe. Adalberto. Nossas casas estão abertas para tuas visitas. Esperamos que sejam freqüentes, pois temos em ti um irmão.

Ass.: Comunidade Divino Espírito Santo.