Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

UMA OPÇÃO HISTÓRICA

Resisti ao assunto porque não achei que algum dos candidatos a Presidente merecia uma linha deste blog a seu respeito.

Mas as bobagens que li e ouvi, as farsas que andei presenciando, e o fato de ver pejoteiras/os (jovens militantes da Pastoral da Juventude - PJ - da Igreja católico-romana, historicamente engajada nos movimentos sociais) chamarem seus colegas de "esquerdistas" (usando o termo como se fosse uma ofensa), tudo isso pesou em minha consciência.

Ser eu me omitisse, neste momento, como eu poderia esperar uma postura profética de minhas companheiras e companheiros de jornada?

Enfim, sem mais delongas, vejam o texto:


UMA OPÇÃO HISTÓRICA

Tudo começou lá no Êxodo. Um dia Javé ouviu o clamor do povo, viu sua miséria e então desceu (Ex 3,7)... Desde então, sempre esteve em meio aos pobres. Já, a Igreja de Pedro... Diante dos últimos acontecimentos, decretou que os senhores bispos não se envolvessem em questões políticas, o que não deixa de ser um gesto político (claro! assim ela não fica mal com ninguém!). Que tristeza... Graças a essa falta de um posicionamento claro, seus fiéis não param de atacar uns aos outros, divididos em duas fileiras, cada grupo achando que tem o aval do Papa. Mas, e Jesus? Está com quem?

Bom, ao longo da História, Ele sempre demonstrou que não está a favor das elites. Logo, não dá pra dizer que, nestas eleições, Cristo esteja com Dilma ou Serra. Este representa a direita, defensora do capitalismo neoliberal, embora queira se passar por socialista. Aquela representa a esquerda, historicamente socialista, embora seja a continuação de um governo que, mesmo caindo nas graças do povo, não implantou o regime esperado, minimizando apenas os efeitos do capitalismo selvagem. Embora diferentes em sua raiz, PT e PSDB defendem projetos que não combatem o mal em sua essência, pois ambos têm por princípio a manutenção do atual – e perverso – sistema econômico.

Então com quem está Jesus? Sim, porque um Cristo apolítico é invenção dos ricos, para que a massa não se meta nas decisões do país. Se a Igreja não quer tomar partido, Deus não liga pra isso, pois se põe do lado dos menos favorecidos desde sempre. Mesmo que as semelhanças entre Lula e FHC tenham confundido o eleitorado recente, não podemos nos esquecer que, historicamente, a esquerda sempre foi porta-voz dos pobres, enquanto a direita sempre esteve a serviço dos poderosos. Por isso, mesmo que os partidos políticos não tenham sido invenção divina, é certo que, enquanto não surgir uma proposta diferente, Deus apoiará a esquerda socialista.

Aliás, textos como At 4,32-35 indicam o desejo divino de um sistema comunista. Melhor, comunista não... Pôr tudo em comum não deve ser uma exigência do Estado, mas entrega livre de cidadãs e cidadãos. Talvez por isso tenham fracassado as experiências colocadas em prática na URSS e outros países (hoje não mais) socialistas. Então, por que não defender um sistema econômico comunitário? O nome muda um pouquinho, mas faz uma grande diferença, pois imprime um movimento que nasce do meio, dos membros, não de cima para baixo (como aconteceu com o comunismo). Ou, então, podemos utilizar o já consagrado termo “Economia Solidária”. O importante é entender que o comunismo falhou por falta de liberdade, não de Deus (defensor dos pobres, mesmo os ateus).

Mas voltemos a estas eleições. Agora não dá para lamentar, pensar em propostas alternativas. O 1º turno, com mais possibilidades, era o momento certo para isso. Agora sobraram um partido de esquerda e outro de direita, ainda que ambos estejam próximos do centro. Militante consciente vota Dilma, sem hesitação. Mas vota sabendo que a luta por um Brasil melhor continua sendo missão popular. Ser fermento na massa (Mt 13,33; Lc 13,20-21), no fim das contas, não é catequisar, doutrinar o povo, mas caminhar junto, fazendo com que, pela nossa ação, a massa não se conforme, mas transforme-se (= ultrapasse os limites impostos pela forma), transformando-nos com ela (Rm 12,2).

5 caminhantes:

Mari Malheiros disse...

Possato... texto fascinante... já estou divulgando aqui pra uma galera. Saudações pejoteiras!

sexta-feira, 29 outubro, 2010  

Pois é, Zé. O problema não é com quem Jesus está ou com qual proposta ele mais simpatiza. O problema real é o que fazem com o nome e em nome de Jesus. "Quem dizem os homens que eu vou apoiar??" poderia ser a frase parafraseada do Evangelho.
Meu assessor em 2002, antes da primeira vitória do Lula disse que ele era um grande entusiasta da vitória do PT. Mas que a partir de 1° de janeiro de 2003 ele seria um grande opositor do governo. Nosso espanto foi grande e quisemos saber o motivo. O governo Lula, disse ele, era o que mais queríamos no momento, mas sempre precisaria ser cobrado para se aproximar da utopia evangélica do Reino de Deus. Essa é nossa meta.
Se a Dilma ganhar, e espero que ganhe, há muito ainda o que fazer pelo Reino e para o Reino. Se o Serra ganhar, haverá muito, muito mais.

sexta-feira, 29 outubro, 2010  
Possato Jr. disse...

Ôche, Rogério...

Acho que estamos falando sobre a mesma coisa, embora partindo de lugares diferentes! Afinal, honrar o nome de Jesus não é fazer a sua vontade?

E como saber qual a sua vontade sem conhecê-lo, sem saber por onde andou, sem saber quais as suas escolhas?

Sabendo que Ele toma o partido das pessoas mais necessitadas (o que é uma forma de denunciar as desigualdades), fica mais fácil discernir como honrar o seu nome, não!?

Mas enfim... A mensagem do meu texto é a seguinte: somente a mobilização popular vai mudar o rumo da História. Sendo assim, votar nos partidos de esquerda (neste momento representados pela Dilma) somente facilita a caminhada; não substitui nossos passos, nosso necessário comprometimento com as mais sofridas e os mais sofridos do nosso povo.

Paz e Bem!!!

sexta-feira, 29 outubro, 2010  

Não Zé. Não partimos de lugares diferentes. Partimos do mesmo lugar, mas com um olhar diferente.

Você diz: "somente a mobilização popular vai mudar o rumo da História. Sendo assim, votar nos partidos de esquerda (neste momento representados pela Dilma) somente facilita a caminhada; não substitui nossos passos, nosso necessário comprometimento com as mais sofridas e os mais sofridos do nosso povo".

E eu te complemento:"nenhum dos dois candidatos representa os ideais que eu acredito para o bem da humanidade, dentro dos valores evangélicos. O caminho menos tortuoso fica com a Dilma. E a nossa postura tem de continuar crítica, propositiva e atuante. O Reino vai muito além".

Foi isso. Abraço

sexta-feira, 29 outubro, 2010  
Unknown disse...

Paz e bem!

Para quem é de esquerda,
ser chamado de esquerdista
é ofensa.
Cf. LÊNIN, V.I. Esquerdismo : doença infantil do comunismo.

sábado, 30 outubro, 2010