Os Peregrinos

O caminho não é novo... O novo está em nós, no nosso jeito de caminhar!

ECOS DA VIDA

Chegando setembro, mês da Bíblia para os católicos de rito romano, a proposta neste ano de 2010 é ler/estudar o livro de Jonas, buscando refletir o desafio de ser missionário no mundo urbano. Assim como é narrado no texto, também hoje Deus nos chama: “Levante-se e vá à Cidade Grande” (Jn 1,1). Temos sido profetisas e profetas fujões, ou protagonistas?
Esta reflexão pretende duas coisas: descobrir qual a nossa missão hoje e mostrar como Jonas nos ensina tudo o que um missionário NÃO deve ser. Tanto a profetisa como o profeta precisam estar atentos e disponíveis ao chamado, que só pode ser escutado através dos sinais, os ecos da Palavra de Deus. Jonas ouve esses ecos, mas não está disponível, tanto é que confessa a Deus: “Eu sabia... por isso fugi!” (Jn 4,2).
São três os gritos que ecoam hoje: Ecologia, Economia e Ecumenismo. Estes, os ECOS da Vida. Porém, o projeto de Jonas é de morte. Javé o envia para denunciar a maldade de Nínive (Jn 1,1), mas ele anuncia a destruição (Jn 3,4). O ódio que nutre pelos ninivitas o faz preferir a própria morte (Jn 4,3.8b.9b) do que presenciar Javé perdoando e restaurando a vida daquelas pessoas e animais (Jn 3,10).
O ódio de Jonas até que se justifica pelo fato de Nínive ser a capital da Assíria, símbolo das forças imperialistas que oprimiam o povo judeu. Mas querer a morte do opressor é o projeto de quem pretende tomar o poder. O autêntico projeto popular quer vida para todos. Olhando o texto, vemos que o Templo só é citado duas vezes, quando Jonas, no interior do grande peixe, lamenta não poder mais contemplar sua beleza (Jn 2,5.8). E quando o rei decreta jejum em todo o reino (Jn 3,6-9), o povo já está “vestido de saco” há muito tempo (Jn 3,5). Por isso, defendem os estudiosos que o livro é escrito por um movimento popular de resistência tanto ao poder externo, imperial, quanto ao poder interno, exercido pelos sacerdotes do Templo em Jerusalém.
E como entender os ecos que movem a nossa missão, a partir deste projeto popular? “Eco” vem do grego “oykos”, que significa “casa”. A ecologia, portanto, estuda as relações da pessoa humana com o meio ambiente, casa de todos os seres vivos. Jonas se aborrece porque Javé faz uma mamoneira morrer. O que lhe irrita não é o fim da mamoneira, mas ter perdido sua sombra, seu conforto (Jn 4,6-9). Então Javé lhe faz a pergunta que é o grande desfecho do livro: “Você tem pena de uma manoneira, que não lhe custou trabalho... e Eu não terei pena de Nínive, a grande cidade, onde há mais de cento e vinte mil seres humanos... e muitos animais?” Javé quer a vida de todo o planeta: rios, florestas, animais e seres humanos. Limitamos nossa compreensão de meio ambiente às florestas e rios. Mas nossos esgotos a céu aberto, a água que desperdiçamos, o óleo que jogamos no ralo, o lixo sem tratamento ou jogado nos terrenos baldios, a extração indiscriminada do petróleo, o descaso com as pessoas que vivem abaixo da linha da miséria, comendo as sobras... Não serão estes problemas ecológicos também?
Quando se fala em economia, pensamos logo em dinheiro. Mas “oykos-nomia” são as regras, as normas de regência da casa. Se esta palavra está atrelada ao dinheiro, hoje, deve-se ao fato do nosso sistema econômico ser capitalista. Tudo se organiza a partir de um valor financeiro. As coisas que custam mais caro são as mais importantes. As “pessoas que interessam” são as mais ricas. Hoje, até uma ideia pode ser vendida, sendo-lhe atribuído um valor monetário. É comum as pessoas nos fazerem um favor e, quando vamos agradecer, ouvirmos: “não precisa agradecer; um dia vou precisar de você!” Até os favores se tornaram moeda de troca... No tempo de Jonas não era bem assim, mas o ódio que este nutria pelos ninivitas vinha do fato de que o rei, isto é, o imperador cobrava pesados impostos de seus subordinados, ou alimento para seus exércitos, ou mulheres para sua diversão, o que empobrecia e humilhava cada vez mais o povo. O engraçado é que Jonas devia achar justo o preço das ofertas que os judeus tinham que apresentar ao Templo para serem purificados. Mas... e nós? Como podemos substituir, ou viver de forma alternativa à imposta pelo atual sistema econômico?
Por fim, o ecumenismo, “oykos-úmene”, casa comum. Jonas ouve a Palavra de Deus, mas não a pratica. Os marinheiros estão mais atentos aos ecos desta Palavra. Eles percebem, no comportamento anormal das ondas, a ira de um Deus. Como verdadeiros sacerdotes, resolvem a questão oferecendo um sacrifício, isto é, jogando Jonas ao mar. O problema se resolve. Quando está em Nínive e ameaça a cidade com a destruição, Jonas não espera que o povo tome a iniciativa de jejuar e vestir-se de saco, buscando aplacar a ira de Javé pela penitência. Eles reconhecem o poder de Javé, assim como os marinheiros, mas o texto não diz que se tornam judeus por isso. Jonas não é nada ecumênico, mas o povo é. E quem escreve o texto procura demonstrar que Javé também é ecumênico. Ele quer o arrependimento dos ninivitas, mas também o de Jonas. Como estão nossas relações ecumênicas hoje? Os mesmos problemas sociais que atingem os cristãos, atingem também espíritas, budistas, ateus... Temos consciência disso? O que fazemos para tornar nossa casa comum?
Tendo pensado rapidamente sobre os Ecos da Vida, como podemos continuar esta reflexão? O livro de Jonas é crítico ao Templo e ao sistema econômico opressor, e aponta como solução o levante popular. A mensagem está bem clara. Que ações podemos realizar, além de projetos como o “Ficha Limpa” e o “Plebiscito pelo Limite da Propriedade de Terra”, que são importantes conquistas populares, mas não passam de paliativos, soluções temporárias que não resolvem definitivamente o problema? Como fazer, por exemplo, para que a campanha contra a violência e extermínio de jovens, que é iniciativa das Pastorais de Juventude católico-romanas, mas que deveria ser assumida por todas as Juventudes, não se torne outro paliativo, mas solução eficaz?

JOVENS, EU VI!

Aconteceu, no último fim-de-semana, em Brasília/DF, um Seminário ecumênico sobre Bíblia e Juventudes, promovido pelo CEBI, em parceria com as seguintes entidades: CAJU, REJU, FALE e Trilha Cidadã. Participaram jovens e cuidantes de todo o Brasil.

O que ofereço a vocês (texto abaixo) não é o relato oficial, que deve sair em alguns dias. Esta é a minha síntese do que foi o encontro, inspirada em Jo 20,1-18, texto que foi o fio condutor do evento.

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BÍBLIA E JUVENTUDES: JOVENS, EU VI!

Meninas e meninos, eu vi! Foi lá em Brasília/DF, mesma terra onde profetizou e morreu Gisley, o jovem. Morreu não... Foi assassinado! Aliás, como acontece com a maioria dos profetas. O fato é que eu vi, mais ou menos um ano depois da partida dele.

Antes, eu vira – estarrecido – mãos juvenis capazes de matar, sem questionar muito por quais lentes me fora possível ter esta visão. Porém, a partir dos últimos acontecimentos, à luz de uma nova lente, vi também histórias juvenis tecendo vida, ainda que timidamente, dispersas, isoladas e confusas – era madrugada e havia um jardineiro.

Mas eu não vi sozinho. Havia mais gente lá! Enxergamos primeiramente um túmulo. Estava vazio, embora devesse ter alguém. Tomadas/os de espanto, preocupamo-nos mais com o cenário de morte, mesmo estando vazio, do que com a possibilidade da vida, de uma nova criação, um novo jardim. Foi preciso que uma mulher gritasse: “Onde está Ele?” Se ela não dissesse nada, quanto tempo ainda ficaríamos dentro do túmulo, antes vazio, mas agora cheio de gente, nossa gente?

Vi as juventudes saindo de seus túmulos pessoais, alguns/umas jovens logo se acomodando em outros túmulos, mas a grande maioria saindo à procura de uma habitação de vivos. Embora tivéssemos vontade de andar pelo caminho certo, esquecemo-nos de perguntar: “Onde está Ele?” Sorte nossa termos Madalena, que forçara o olhar para enxergar alternativas à realidade nua e crua, a dar-nos a Boa Notícia: “Eu vi o Senhor!” Com isso, percebemos que não adiantava sair do túmulo. Precisávamos aprender a enxergar por nós mesmas/os, treinar nosso olhar. Mas não só isso... Era preciso saber, ainda, o que, ou a quem procurávamos.

Já falei que vimos um jardineiro? Melhor dizendo: não vimos, não; mas ele estava lá! Conseguimos vislumbrar o jardim, mas nos esquecemos que era necessário cultivá-lo, se quiséssemos vê-lo florido. Por isso, ignoramos o jardineiro. Somente Madalena se dirigiu a ele, perguntando se tinha levado o corpo do Senhor para outro lugar. Qual não foi a surpresa dela ao descobrir que o Senhor não estava morto coisa nenhuma, e que ele e o jardineiro eram a mesma pessoa? Nesse momento amanheceu, e Madalena pode ver claramente.

Demoramos para acreditar em Madalena. Lamentávamos a morte, em vez de perguntar por que o mataram. Ele fora executado como criminoso político, isso nós sabíamos. Mas por que, se ele falava de um Reino que nem deste mundo era? Tínhamos muito medo de fazer esta pergunta. Entretanto, quando amanheceu, fomos às ruas. Por que Ele morreu? Por que morrem as/os jovens? Quem nos está matando? Por que estão fazendo isso? Quando percebemos que a morte d’Ele não fora acidental, deduzimos que as outras mortes também não estavam acontecendo por acaso. Antes, foram arquitetadas. E isso – essa grande descoberta – incomodou quem estava querendo nos matar, sufocar, silenciar, tornar invisíveis. É preciso muita coragem para enfrentar esses grupos opressores. Coragem que só estamos tendo porque, igual à Madalena, “vimos o Senhor”.

Enfim, meninas e meninos, foram essas – além de outras, a serem contadas em outro momento – as coisas que eu vi. As juventudes dispersas em meio à escuridão da madrugada, ansiosas pelo sol prestes a despontar, perceberam na Bíblia uma ótima ferramenta para ver o Cristo, Alimento da Jornada. O encontro, em local e situação inesperados, porém livres das amarras institucionais, só foi possível porque deram-lhes novas lentes, as da Hermenêutica Juvenil.

PAZ SEM VOZ... É MEDO!!!

Desde a virada do milênio, a cada cinco anos celebramos uma Campanha ecumênica da Fraternidade, organizada pelo CONIC. Em 2000, sob o tema “Dignidade Humana e Paz”, desejamos um “Novo Milênio sem Exclusões”. Em 2005, gritamos: “Felizes os que promovem a Paz” (Mt 5,9a). Os temas foram baseados numa campanha do CMI (Conselho Mundial de Igrejas): 2000-2010: Uma década para superar a violência. Mas o tema, agora, é: “Economia e Vida”. Será que, diante deste assunto, poderemos continuar a falar de Paz?

À primeira vista, parece que este assunto se esgotou e, por isso, o CONIC resolveu abrir outra discussão. Mas é justamente o contrário. O tema deste ano aprofunda as reflexões sobre a Paz, pois vai direto à fonte da violência: as desigualdades sociais, fruto do desequilíbrio econômico e financeiro entre classes e entre nações.

A mola propulsora das desigualdades é o acúmulo, prática onde uns/umas possuem mais do que necessitam, enquanto outros/outras passam necessidade. Ora, se a reação dos que possuem em abundância é acumular cada vez mais, qual será a reação dos que nada possuem?

Os telejornais, e a mídia em geral, insistem em pôr a culpa da violência em jovens armados, ou ladrões de esquina: a “ponta fraca” do sistema. Mas serão eles os verdadeiros vilões? Isso me faz lembrar algumas palavras de Bertold Brecht: “Quem é teu inimigo? O que tem fome e te rouba o último pedaço de pão, chama-o teu inimigo. Mas não saltas ao pescoço de teu ladrão que nunca teve fome.” Claro, a ideia não é combater violência com violência. Sou da seguinte opinião: “Se queres a Paz... Prepara-te para a Paz!” Lembrei as palavras desse teatrólogo alemão somente para demonstrar quem é o nosso verdadeiro inimigo, pois – é preciso que se diga – as revoluções só acontecem mediante um inimigo comum e declarado.

Dificuldade em identificar o inimigo, ou medo de sofrer represália: eis as principais razões de muitas pessoas não saberem como reagir, diante da violência. Jesus viveu muitas situações onde era preciso identificar a causa do problema e vencer o medo de enfrentá-lo. Um exemplo claro é a tradicional fórmula: “Eu vos deixo a Paz, eu vos dou a minha paz. A paz que eu vos dou não é a paz que o mundo dá. Não fiqueis perturbados, nem tenhais medo” (Jo 14,27). A paz que o mundo (entenda-se: “Roma”) proporcionava, na época de Jesus, era na base da espada. Tudo corria bem para quem obedecia o imperador (entenda-se: “não criava confusão e mantinha os impostos em dia”). Já, a paz que Jesus oferecia era gratuita e verdadeira. Por isso, não havia razão para ter medo. Falando assim, Jesus encorajava seus ouvintes e, ao mesmo tempo, denunciava o verdadeiro inimigo, a fonte originária da violência: o poder opressor.

Entendendo desse modo a “paz que o mundo dá”, fica compreensível o motivo do Jesus de Mateus parecer o oposto do Jesus de João. Não entenderam? O Jesus de Mateus não vem trazer a paz, mas a espada (Mt 10,34). E o de Lucas vem trazer fogo e divisão (Lc 12,49-53). Sem entender o que estava acontecendo naquela época, o evangelho de João e os de Mateus e Lucas parecem ser contraditórios. Mas a paz que Cristo não quer é a dos romanos. E a espada, o fogo e a divisão, a que Ele nos chama, é a reação contra as injustiças que promovem a violência e a morte.

Divisão, neste caso, não é algo ruim. É preciso romper com o que nos faz mal. Mas, para combater a violência, não basta sermos não-violentos. Isso pode até anular os efeitos dela, mas não propõe nada melhor em seu lugar. Urge promover ações positivas, geradoras de paz. E então... O que são atitudes promotoras da Paz? Quem pode promovê-las? Em que espaços? Em que momentos? O que faz o grupo ou comunidade em que você vive para promover a Paz?

PELOS VIOLENTOS, CONTRA A VIOLÊNCIA

Como dizia meu tio: “Todo mundo vê as pinguinha que eu tomo, mas ninguém vê os tombo que eu levo!” É óbvio que ele não se referia aos tropeções que tomava, cambaleando de bêbado, a caminho de casa, mas das dificuldades que o empurraram ao vício. Assim acontece com a violência: Todo mundo quer o fim dela, mas poucos se preocupam em investigar a raiz do problema.

Segundo a TV, é fácil identificar os culpados. Eles andam de armas nas mãos, sem camisa, falam palavrões e, quando não escondem o rosto, percebe-se que são feios, desdentados e negros. Mas, se é tão fácil traçar um perfil violento, por que ainda não eliminamos este mal do nosso meio?

Não é de hoje que as novelinhas de horário nobre têm desenvolvido o conceito de que há pessoas do bem e do mal. As do bem nascem em berço de ouro, ou são pobres, mas muito bonitinhas e, por isso, ficam ricas. Porém, sofrem a novela toda, tendo sua recompensa só no final. As do mal já nascem em ambientes ruins e nunca se corrigem: ou morrem, ou terminam seus dias na cadeia.

Olhando para nossa realidade, quem são os presidiários? Brancos ou negros? Pobres ou ricos? Adultos ou jovens? Todo presidiário é culpado? Toda pessoa livre é inocente? São questões intrigantes, não!? Mas talvez a pergunta crucial seja esta: As pessoas nascem violentas, ou são levadas a isto?

Vamos comparar os textos At 4,32-35 e At 5,1-11, buscando perceber em qual situação e por qual motivo surge a violência. No primeiro, vemos o retrato da comunidade ideal, onde tudo era mantido em comum. No segundo, duas pessoas morreram. Isso por que mentiram? Não!!! Porque acumularam, quiseram ter mais que os outros. A morte foi consequência do egoísmo e do individualismo do casal.

Em nossa sociedade, vale mais a partilha, ou o lucro? Quem acumula não agride ninguém fisicamente. Mas, quando uns acumulam, outros passam privações. Viver na fartura sabendo que, por isso, outros passam fome, é um ato violento ou não!?

Ah, sim... E os descamisados com arma na mão, dos quais falamos no início? É bem verdade que eles não são ricos. Mas são vítimas daquela primeira violência, a das privações. Embora a TV diga que são bandidos, eles são marginais, ou seja, aqueles que vivem à margem, os excluídos da sociedade.

Há quem diga que essas pessoas deveriam procurar emprego. Mas há vagas para todo mundo? Os jovens conseguem facilmente o primeiro emprego, ou a maioria das vagas requer experiência? O salário que as empresas oferecem se equipara ao que se ganha na prostituição, ou no tráfico? As pessoas de menor condição social são respeitadas da mesma forma que as pessoas de melhor condição?

A pior agressão que esses grupos sofrem é serem convencidos de que são os culpados pela sua própria situação. Não foi o que fez o governo com os moradores dos morros cariocas, incriminando-os pelas mortes nos deslizamentos?

Quando o povo se insurge, é taxado de criminoso, violento. Mas há grupos naturalmente agressivos, ou a violência é um ciclo vicioso, fruto de um sistema que gera desigualdades e rouba a dignidade das pessoas? Não seria a agressão física uma reação desesperada, um grito de socorro? Afinal, é possível viver numa sociedade onde “não haja pessoas necessitadas” (At 4,34)? Isso garantiria o fim da violência?

SOU ASSESSOR/A – E AGORA???

Tudo começa de um modo especial e diferente para cada um/a. No meu caso, por exemplo, vivia recusando os convites insistentes para participar de um tal grupo de adolescentes. Até que, um belo dia, resolvi “ver qual é que era”.

Fui e encontrei um pessoal muito animado, cantando em roda. Fiquei entre duas irmãs, loirinhas, que gentilmente sorriam pra mim e disponibilizavam um folheto de cantos. A primeira música (desse encontro em especial e de todos os outros em que participei depois) foi “Pai-Nosso dos Mártires”. A galera simplesmente enlouqueceu cantando essa música. Não sei se foram as irmãs, a música, ou a empolgação do pessoal. Só sei que não me lembro do que aconteceu depois. Mas deve ter sido muito bom, pois, graças a essa primeira impressão, estou inserido nos meios juvenis até hoje.

Entretanto, quando me tornei assessor, foi diferente. Não lembro o momento exato em que isso aconteceu. Até porque esse é o tipo de coisa que a gente não decide. Parece haver um consenso, uma espécie de acordo não-verbal entre as/os participantes para eleger alguém assessor ou assessora do grupo. Um dia simplesmente te tratam de forma diferente. E aí??? O que fazer???

Definir o papel do/a assessor/a é complicado. Observando os critérios do grupo, parece que o primeiro passo é ter um período de caminhada maior que os demais. Mas só isso não basta! É necessário ter carisma e iniciativa também. Tem muita “figurinha antiga” por aí que adora o anonimato. Do/a assessor/a espera-se, no mínimo, que aponte o caminho, principalmente quando o grupo estiver indeciso ou desorientado. Por vezes, esse carisma gera uma pressão natural para que ele/a assuma o papel de coordenador/a. Neste momento, é preciso ter claro quem aponta os caminhos e quem deve trilhá-los. Entretanto, muitas/os assessoras/es sucumbem à tentação, pois estão confusas/os quanto ao seu papel e, além disso, o poder seduz.

Olhando as Escrituras, vemos Jesus passar por um dilema semelhante: o povo queria aclamá-lo rei. Os apóstolos também sonhavam com um Messias-Rei e, por isso, não entendiam por que o Mestre fugia desse “apelo popular”. Vejamos como Jesus reage perante esta situação em Mt 14,22-33, passagem bem conhecida, onde Jesus caminha sobre as águas.

Orar é estar em intimidade com Deus. O monte, segundo o Antigo Testamento, é o lugar do encontro com Javé (Ex 24,16-18; 31,18; Lv 25,1 etc). Logo, estamos diante de Jesus ressuscitado. Alguém perguntará: “Mas como, se aí Ele nem tinha sido crucificado?” Lembremo-nos de que os Evangelhos (e toda a Bíblia) têm um compromisso teológico com a verdade, e não historiográfico. O mar agitado são as dificuldades pelas quais passa o grupo ou comunidade, simbolizados pelo barco. Uma vez ressuscitado, Jesus segue à frente (importante dizer: Ele não assume os remos; apenas mostra o caminho), andando por cima das dificuldades. Mas o medo impede o grupo de reconhecê-lo. Por isso, o vêem como a um fantasma. Ou seja, imaginam que o projeto de Jesus morreu com Ele, que tudo não passou de um sonho e, por isso, o que está bem diante dos olhos deles não passa de uma miragem.

Pedro (sempre o Pedrão) desafia Jesus: “Se é você mesmo (= se é verdade que você ressuscitou), faça eu ir até aí!” Pedro quer ressuscitar, mas não quer passar pela cruz, assim como os grupos que querem as/os assessoras/es assumindo as responsabilidades por eles. Pedro abandona o barco e até obtém resultados significativos, por um tempo, mas logo cai em si e afunda. Reconhecendo seus erros, pede socorro e Jesus o salva. Podemos deduzir daí que manter o grupo unido e navegando pode ser também uma tarefa do/a assessor/a. Vale ainda ressaltar que, quando ambos entram no barco, Jesus e Pedro (= assessor/a + jovens = grupo), o mar (= dificuldades, desafios) se acalma (= fica sob controle).

Pelo modo de agir de Jesus, talvez seja mais correto chamar as/os assessoras/es de acompanhantes. Esse é o papel de Jesus. Ele está sempre ciente dos fatos, ciente da realidade, mas nunca faz as coisas por nós. Se olharmos outros textos, Ele está sempre mandando fazer isso, fazer aquilo, mas Ele mesmo nunca põe a mão na massa. Entretanto, não nos deixa sozinhos. No caminho de Emaús, caminha ao nosso lado (Lc 24,15); na partilha dos pães, embora diga: “dêem-lhes vocês mesmos de comer”, é o primeiro a sentir compaixão do povo (Mt 14,14). Ele conhece tanto as pedras do caminho como as/os próprias/os caminhantes. E, por isso, pode indicar sempre a melhor alternativa. Que este, meus amigos e minhas amigas, seja o principal critério para quem pretende ser um/a acompanhante das juventudes.

É TUDO UMA QUESTÃO DE “ECO”

Em 2010, novamente a Campanha da Fraternidade será ecumênica. O tema é: “Economia e Vida”. O lema: “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). Há tempos não se via um ataque tão direto, por parte das instituições religiosas, ao cerne de todos os males de nossa era: o culto ao dinheiro.

O lema da CF lembra outra passagem: “dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22,21). Jesus disse isso quando lhe perguntaram: “É lícito, ou não, pagar imposto a César?” O imposto, como o nome já diz, é uma obrigação que, embora legal (porque previsto em lei), não seria exigido se quem o deve pagasse espontânea e livremente. O não-pagamento confere-nos o rótulo de mau devedor, má devedora, um/a “fora-da-lei”. Ora, quem já caiu nas armadilhas de um cartão de crédito sabe que o mau caratismo é de quem aplica juros abusivos, e não de quem foi enganado pela propaganda sedutora do consumismo.

Se a serpente encontrasse Adão e Eva hoje, diria: “Se comprardes isso agora, sereis como deuses”. E então eles correriam até o shopping mais perto de sua casa e, depois de gastar o que não podiam, Eva tentaria aplacar sua culpa comendo um chocolate e Adão se entupiria de cerveja. Mas ambos saberiam, em seu íntimo, que não deviam ter escutado a serpente em forma de “tela-plana-trinta-e-quatro-polegadas”.

O desejo de consumir deriva da necessidade que temos de não passar necessidade. Nada mais natural. Porém, o desejo desenfreado de consumir deriva do medo de que falte amanhã e, por isso, gera o acúmulo. Quando exagerado, o medo gera o egoísmo: “importa é não faltar pra mim!” E o grau superlativo do medo diz: “importa não sobrar para os outros!” Eureca!!! Descobrimos a fórmula da desigualdade social!

Bom... Na verdade, essa fórmula já é conhecida há anos. Quando os hebreus e hebreias estavam numa situação crítica de fome, bem no meio do deserto, Deus Javé fez chover maná do céu (Ex 16). O medo de passar fome no dia seguinte fez com que algumas famílias pegassem mais do que o necessário para o seu sustento. Porém, sem freezer, naquele deserto, logo elas perceberam que o maná tinha prazo de validade. Se não fosse consumido no dia da coleta, amanhecia estragado.

E assim, a duras penas, o povo foi aprendendo a viver só com o necessário. Tudo ia bem, até que um dia alguém resolveu cercar um punhadinho de terra e dizer que aquele espaço era seu. Mas essa é uma história para outro pôr-do-sol.

Aliás, falando em cercar um punhadinho de terra... Esta não seria uma análise completa do aspecto econômico e ecumênico do texto, se não falássemos de um terceiro “eco”: o da ecologia. Afinal, os três “ecos” estão interligados. Podemos observar, no texto, que as tentativas de exploração do meio ambiente, a extração indevida daquilo que Javé, aproveitando as características naturais do deserto, ofereceu para matar a fome (maná), foram frustradas (o maná acumulado apodreceu). Além de partilhar, o povo aprendeu a viver em harmonia com a natureza, pois colhia dela somente o necessário.

O que vale destacar aqui é a pedagogia da partilha e da harmonia com o meio, embora alguns vejam, na história do maná, uma justificativa divina para o consumismo imediatista de nossa época. Elas exigem o que é de César, mas esquecem o que é de Deus. No deserto, o povo estava murmurando contra Moisés e contra Javé, pois havia gente morrendo de fome. Hoje também há pessoas morrendo de fome, mas essas não parecem ser as mesmas que obedecem à lógica do “eu quero, e tem que ser agora!

Essa proposta pedagógica da partilha indica uma economia bem diferente da praticada pelo atual sistema econômico mundial. A propósito: O que é economia? Que modelos econômicos conhecemos? Qual deles seria a melhor alternativa para os nossos dias? Ela tem alguma coisa a ver com a proposta do maná no deserto? Por quê?

Entendendo o que é Educação Popular

Perdão pela ausência, pessoal! 2010 foi um ano muito corrido, principalmente no segundo semestre.

Foi, sem dúvida, um ano de muitos acontecimentos. Gostaria de lembrar, particularmente, os frutos do curso Bíblia e Teatro. Com ele, aprendi muito sobre assessoria e educação popular.

Cada etapa do curso consistia em um primeiro momento de reflexão bíblica, seguido de uma produção cênica. Esta produção era fruto da interpretação que as/os próprias/os participantes faziam dos textos bíblicos trabalhados.

No início, eu trabalhava as reflexões bíblicas como de costume: abria espaço para as/os jovens participarem, mas buscava fazer o fechamento com uma conclusão positiva, que inspirasse alguma atitude, algum engajamento popular.

Eu falava muito bem, mas logo na primeira experiência de tradução das reflexões em linguagem cênica, tive o maior choque de realidade que já me ocorreu até o presente momento.

Refleti longamente sobre o sentido social da comunhão. Disse-lhes que comungar não era ser um “papa-hóstia”, que comunhão era trabalho em grupo, era o ápice celebrativo de uma vida em comunidade.

Disse que, antes do rito litúrgico, deveríamos pensar na comunhão como alimento para o corpo de Cristo, que era a própria comunidade, segundo os textos que estávamos trabalhando (1Cor 11,17-34 e 1Cor 12,12-27). Logo, comungar era tornar-se uma ameaça para o sistema opressor, pois comungar era fortalecer a comunidade, o corpo de Cristo, que subvertia a lógica de sistemas como o capitalismo, onde o que vale é o lucro, e não a vida digna para todas/os. Enfim... Como dizem os gaúchos: “eu estava me puxando nas reflexões...”

Só que chegou o segundo momento, o momento teatral do curso. Foi pedido aos cursistas que ficassem em dupla e, ao ser dito qualquer palavra, que a interpretassem interagindo entre si. Foram ditas muitas palavras, até que o assessor (que neste momento não era eu) falou “comunhão”! As duplas foram unânimes em mostrar um padre colocando a hóstia na boca ou na mão de um/a fiel.

Foi um baque. Entrei em uma crise muito profunda. Não era nada daquilo que eu tinha dito. Foi então que percebi: estava tão preocupado com o que eu queria dizer que não parei um minuto para ouvi-las/os.

Antes disso, quantas vezes, em inúmeras assessorias de meio período, saí metralhando informações e voltei pra casa satisfeito porque todos gostaram de minhas palavras, quando na verdade estavam eufóricos com meu jeito comunicativo e com as músicas animadas que eu tocava ao fim dos encontros.

Depois do choque, comecei a escutar mais, a deixar que as/os participantes falassem mais, para depois ajudá-las/os a refletir criticamente sobre suas próprias opiniões. Mas nunca fechando definitivamente as discussões. Deixo sempre que voltem para casa refletindo sobre suas próprias vidas, sobre a relação entre o que leram e o que viveram até então.

Ainda não sei se estou alcançando meu objetivo, mas sinto que a cada dia entendo melhor o que é a educação popular. Nem sempre as conclusões são aquelas que eu queria, mas sempre são fruto da reflexão coletiva. E isso me anima a continuar...

Também sou "bixo"!!!

Passei em Letras, na ULBRA!
O curso é EAD, mas tem o peso de um faculdade presente em todo o país!
O vestibular consistia apenas em uma redação. E, segundo a diretora do campus, só reprovaria quem não soubesse escrever.
Havia dois temas, dos quais eu teria que escolher um: A fraude de Nelsinho Piquet, ou as Olimpíadas de 2016 (no Rio de Janeiro).
Escolhi a do Nelsinho, porque falava sobre valores. O texto de apoio dizia que o Nelsinho esquecera os valores aprendidos no seio de sua família. A redação deveria ser feita a partir de uma pergunta: "É válido negar os valores de berço para obedecer a ordem do chefe?"
Não fiquei com cópia do que escrevi, mas ainda lembro o esqueleto da redação. Ficou mais ou menos como segue, abaixo. Vejam se passei:
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"Que valor tem isso?"
Seja na história da humanidade, seja no dia-a-dia de uma nação, ou de uma pequena comunidade, seja na nossa própria vida particular, o fio condutor dos acontecimentos são os valores, ou a ausência deles.
Quem define os valores ou contravalores são a Ética e a Moral, sejam elas civis ou religiosas. Por isso, um valor depende da época, lugar e realidade a que se aplica. Nos dias de hoje, a porção ocidental vive o predomínio dos costumes cristãos, ainda que seja um cristianismo desviado de suas origens.
É inserido nessa realidade que encontramos Nelsinho Piquet, filho do ilustre campeão Nelson Piquet. Atendendo ao pedido do chefe, ele trapaceou numa corrida. Isso chocou o mundo da Fórmula 1. Mas para nós, brasileiros, o que deveria chocar foi a postura da família Piquet. Afinal, essa situação toda veio à tona por causa de uma investigação, e não pela possível denúncia do Sr. Nelson, que poderia ter usado seu respeitável nome e influência para enfrentar a escuderia de seu filho.
Mas o pior foi o que disse o Nelson Pai, durante o processo. Ele afirmou que tudo iria ficar bem, pois seu dinheiro bancaria os melhores advogados para cuidar do caso do seu filho. De fato, Nelsinho saiu impune. Mas não foi só o mundo da Fórmula 1 que perdeu. Sendo a família Piquet tão ilustre, que exemplo deixou para as famílias do nosso Brasil?

JUVENTUDES E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA

Costuma-se dizer que, se espremermos alguns jornais, em vez de tinta, escorrerá sangue. A violência não se tornou apenas banal e comum a todas as realidades; ela virou entretenimento, um espetáculo, poderoso anestésico que nos domina, gerando um clima de terror que nos fascina e imobiliza ao mesmo tempo.

A violência é institucionalizada. Ela serve aos interesses de uma minoria organizada e articulada, que mantém a maioria (população) dividida em subgrupos, desorganizados, desarticulados, guerreando uns contra os outros. E o pior... Essa minoria consegue fazer o povo acreditar que, em vez de vítima, é o principal culpado da situação. Mas que minoria é essa? De que forma isso atinge as juventudes? Há um só tipo de violência? Quais tipos nós conhecemos? Eles dependem de cor, sexo, condição social, ou idade?

Chega de violência; queremos Paz! Em Is 32,17 lê-se que a Paz é fruto da Justiça. Mas de qual justiça estamos falando? Vamos dar uma olhadinha no livro de Jonas. Enquanto vamos lendo, observemos: O que Deus quer de Jonas? O que Jonas deseja para os ninivitas? Quem inicia a mudança é o rei, ou o povo? Como Jonas se sente, no final? Qual a diferença entre a justiça de Jonas e a de Deus?

O livro de Jonas é escrito no pós-Exílio, durante a dominação persa e a reconstrução do Templo e de Jerusalém. Lendo os livros de Esdras e Neemias, vemos que: a Lei se tornou bem mais rigorosa e abrangente; criou-se aversão à/ao estrangeira/o; o Templo se tornou central na vida do povo e os sacerdotes os grandes líderes, já que o rei persa não admitia reis locais (como os reis-vassalos da Idade Média).

Jonas, então, representa a elite sacerdotal e Nínive os povos estrangeiros. O Templo só aparece uma vez no texto, na boca de Jonas, dentro da baleia. É o povo reagindo ao novo poder constituído, que aparenta restaurar a confiança em Javé, mas na verdade faz apenas um acordo político com o rei persa: “Deixe-nos mandar na religião e cultura desse povo, que em troca garantimos teu poder sobre a nação e os devidos impostos!

E nos dias de hoje... Como anda a nossa justiça? Ela recria a vida, como fez Javé com os ninivitas? Ela trata toda/o cidadã/o com misericórdia, respeito e dignidade? Ela educa para a cidadania, aplicando penas justas, recuperando as/os infratores e tranquilizando a população de que elas/es podem ser reintegradas/os à sociedade? O que podemos fazer para mudar este quadro, a partir da leitura de Jonas?

Para ajudar na reflexão, uma pergunta: Se a violência atinge todas as realidades, por que a maioria das/os detentas/os de nosso sistema carcerário são jovens, pobres e negras/os?

Diz o ditado: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra!” O contraditado vem na letra de uma música: “Paz sem voz não é paz; é medo!” Os mais ingênuos acreditam que a paz é um mundo sem brigas, nem divergências, onde todas/os se abraçam e todo mundo é igual. Mas será que a violência nasce das diferenças? Já vimos que não!!!

Urge despertarmos, criarmos consciência do que realmente está matando nossas/os jovens. Mas não basta!!! Precisamos agir, tomando partido das/os injustiçadas/os. Mas como???

Precisamos criar uma Cultura de Paz!!!

JUVENTUDES: UNIDADE NA DIVERSIDADE

Desde os primórdios, a humanidade vive em grupos. Não dá pra negar: somos seres sociais. O que nos uniu, nas origens, foi o instinto de sobrevivência (éramos a caça), mas hoje, sobretudo no meio urbano, as relações se tornaram tão diversificadas e complexas que, além da sobrevivência, movem-nos outros interesses.

Para começar, tornamo-nos nossos próprios caçadores. É de Júlio César, imperador romano, a frase: “Dividir para conquistar!” Ele sabia que, unidas, as aldeias teriam mais chances de resistir. E hoje... Quem é o Júlio César da nossa juventude? Quais os mecanismos para mantê-la dividida? Há uma única tribo (= grupo) juvenil, ou várias, reunidas mediante diferentes interesses ou realidades? Isso é bom ou ruim?

Já que citamos César, que tal um passeio em Corinto? As cartas escritas por Paulo foram dirigidas às comunidades da terceira maior cidade do império romano, com mais de 400.000 habitantes. Situada entre dois portos, era passagem obrigatória do Ocidente para o Oriente e vice-versa. De solo irregular, a cidade vivia do turismo (festas, esportes e atrações culturais) e do transporte de cargas e de pessoas, de um porto para o outro. Os trabalhadores eram pobres: escravos ou libertos. Uma guarnição militar assegurava – e controlava – o transporte de mercadorias e pessoas. O grande fluxo de pessoas, de todos os cantos do império, também atraía comerciantes.

Bem parecida com as grandes cidades de hoje em dia, não!?! Mas não era só isso... Havia shoppings, digo, templos espalhados por todos os lados, dedicados a vários deuses, sendo Afrodite a deusa principal. A administração da cidade (e de todo o império) estava vinculada ao culto aos deuses. Cultuá-los era garantir a prosperidade, tanto pessoal quanto social. Seus cultos eram regados a banquetes e orgias. A prostituição era comum, e havia inclusive prostitutas/os sagradas/os.

É dentro desse contexto que Paulo escreve. Lá, como cá, havia divisões, o que enfraquecia a comunidade. Vejamos 1Cor 11,17-34. Também fala de um banquete (Ceia Eucarística). Mas Paulo não está falando de ritos, celebrações, missas... A Ceia possuía uma função social. Nos banquetes, algo era oferecido aos deuses em troca do que se queria (sucesso nos negócios, por exemplo). Por isso, só podiam participar aquelas/es que tivessem como pagar. Na Ceia Eucarística, é o próprio Deus, Jesus Cristo, que se oferece. Todas/os podem participar, em pé de igualdade. Escravos sentam-se com senhores, homens com mulheres, jovens com adultos. Tudo é partilhado, há uma comum-unidade, não só de alimentos, mas de todo um estilo de vida. Porém, se alguns são desprezados, que diferença há entre a Ceia e os banquetes?

A proposta da Ceia, no fundo, era a proposta de uma sociedade alternativa.

A economia, nesse novo jeito de se relacionar, era baseada na partilha e no serviço. Paulo, inclusive, evoca uma imagem, mostrando que a comunidade é um corpo (o corpo de Cristo) e cada um de nós somos membros desse corpo (1Cor 12,12-30). Portanto, não podemos estar divididos. O braço não pode se desfazer do pé porque aí o corpo todo padece. Em 1Cor 12,4, Paulo afirma: “Há diversidade de dons, mas um só é o Espírito!

A comunidade só sobrevive se permanece unida e cada um põe suas diferenças a serviço dos demais. E as tribos (= juventudes)? Será que têm algo a aprender com isso? De que forma podemos promover a unidade? É possível permanecer unidos na diversidade?